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13 DEZ 2018

IX Fórum 12 reúne experiências nacionais e internacionais de troca de tráfego Internet




Evento realizado pelo NIC.br contou também com o lançamento da pesquisa TIC Provedores 2017 e do fascículo sobre endereços IP e ASNs

As experiências da troca de tráfego Internet no âmbito nacional e internacional – incluindo dos três maiores IXs (Internet Exchange ou Pontos de Troca de Tráfego) do mundo – foram discutidas por especialistas na terça e quarta-feira (11 e 12 de dezembro) durante o IX Fórum 12 - Encontro dos Sistemas Autônomos da Internet no Brasil, evento realizado pelo Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br). Parte da VIII Semana da Infraestrutura da Internet no Brasil, o 12º IX Fórum promoveu ainda o lançamento da publicação "Endereços IP e ASNs - Alocação para Provedores Internet" e da pesquisa TIC Provedores 2017, que descreve a atuação das empresas de provimento de acesso à Internet no país, além de debates sobre tendências relacionadas às transmissões ópticas e ao uso da tecnologia EVPN.

Os quase 500 participantes presentes no evento, entre provedores de acesso e serviços (ISP - Internet Service Provider) e provedores de conteúdo (CDN - Content Delivery Network), tiveram ainda a oportunidade de ampliar o relacionamento durante o "Beer, Gear & Pear" e definir acordos no "Peering Coordinator Forum". "O IX Fórum acontece há 12 anos e tem abordado várias vertentes, técnicas e tendências. É um ambiente que incentiva o diálogo e também a confiança entre os participantes a partir do encontro presencial", destacou Demi Getschko (NIC.br) durante a abertura do evento, pontuando que a troca de boas práticas e o trabalho colaborativo são características que marcam a Internet desde o seu início.

"Na programação deste ano, tivemos o cuidado de mostrar o que é o IX e o PTT em um contexto global. Essa é uma iniciativa que existe em vários lugares do mundo, que é muito importante para a Internet e tem se saído muito bem no Brasil. Outra discussão importante é como essas iniciativas se sustentam, quais são as despesas operacionais, como gerar algum tipo de suporte para manter a operação funcionando e quais são os preços praticados fora do País", completou o diretor-presidente do NIC.br, que chamou atenção ainda para a multissetorialidade do programa 'Por uma Internet mais Segura', do NIC.br, outro tema de destaque da programação do IX Fórum 12.

Peering remoto

No painel "IXs: Peering Remoto", representantes dos IXs de Londres, Amsterdã e Frankfurt (os três maiores Internet Exchange do mundo) compartilharam suas experiências sobre peering (acordos de troca de tráfego) remoto. Para Ben Hedges (LINX) peering é peering. "Você não precisa estar a vários quilômetros de distância, se estiver em outro prédio já é uma conexão remota. Temos cada vez mais peering com redes fora do Reino Unido, especialmente com o continente africano. Em média, 30% dos participantes do LINX estão interligados por peering remoto", pontuou. No AMS-IX, essa proporção chega a 70%, informou Erik Verhoef (AMS-IX). "No início, os participantes remotos vinham de Frankfurt e Londres. Hoje, vêm de países asiáticos, da Rússia, dos Estados Unidos e também do Brasil. Temos cerca de 10 participantes brasileiros via peering remoto", afirmou.

Arnold Nipper (DE-CIX) chamou atenção para o fato de que o conceito de peering remoto depende da latência. Na opinião do representante do IX de Frankfurt, esse tipo de acordo possui vantagens e desvantagens. "É importante que os participantes saibam se as conexões acontecem de forma local ou remota, para então avaliar se são sustentáveis ou não. Os IXPs devem, portanto, fornecer informações para que participantes consigam fazer a melhor escolha na hora de trocar tráfego", defendeu Nipper, reforçando ainda que os acordos com IXPs de outros continentes dependem da estratégia de negócio de cada empresa.

Em concordância, Darwin Costa (Angola Cables) enfatizou, durante o painel complementar "Operadoras: Peering Remoto", que o business case precisa fazer sentido para aderir ao peering remoto e realizar expansão da rede, pontuando que a Angola Cables oferece suporte ao peering remoto por meio dos cabos submarinos Monet, SACS e WACS. Já Adriano Caldevilla (Globenet) apontou os benefícios desse tipo de acordo. "A conexão direta aos conteúdos internacionais para a utilização de games servers, video streaming, IPTV, cloud services, e a otimização das rotas em termos de visibilidade internacional são algumas das vantagens", listou, destacando também o uso da ferramenta de flow para tirar o melhor proveito da conexão com os IXPs, questão igualmente evidenciada por Mario Gulla (Alta Rede).

Na avaliação de Gulla, a conexão aos IXPs internacionais tem sido cada vez mais barata e viável, enquanto Sayde Bayde (MobTelecom) defendeu a presença nos pontos internacionais para levar ao consumidor final conteúdos que não existem no Brasil. Ele chamou atenção para a latência e necessidade de analisar as rotas marinhas. "Quando a gente fala em peering remoto, temos que pensar na rota do cabo submarino que vou usar. O caminho dos cabos precisa ser inteligente por conta da latência", afirmou, reforçando ainda que o IX Fortaleza é um dos que mais cresce no Brasil.

Compra de trânsito e benefícios do IX

Os preços estão caindo na América Latina, porém ainda é mais barato comprar trânsito nos Estados Unidos. Essa é uma das conclusões apresentadas no IX Fórum 12 por Anahi Rebatta (Telegeography), que traçou um comparativo entre os valores em países da América Latina e de outros continentes. Rebatta lembrou que os preços variam de acordo com a rota. "Miami é considerada um hub para o mercado latino americano. Em vez de comprar trânsito localmente, operadoras compram um circuito que vai até Miami, porque é mais barato", explicou. A especialista ressalta que a competição beneficia o setor, já que a demanda global por banda continua crescendo, bem como investimento em infraestrutura, enquanto os valores para compra de trânsito estão em queda – de 2015 a 2018, houve uma redução de 30% nos preços em âmbito global. "É importante lembrar que o que você paga depende da quantidade de banda que compra", reforçou.

Por que os Internet Exchanges são cada vez mais importantes? Ajudam a manter o tráfego local, a reduzir os custos de conexão com outras redes, a reduzir a latência entre as redes, melhoram a experiência dos usuários, a resiliência e segurança das redes, respondeu John Brown (CityLink Telecommunications). "O peering é uma decisão pessoal, muito mais do que uma decisão técnica, pois exige confiança", comentou. "O IX.br é um dos maiores pontos de troca de tráfego do mundo, é uma infraestrutura crítica para a região e para a Internet globalmente. A equipe do IX.br e de outros Internet Exchanges fazem um ótimo trabalho para o desenvolvimento da Internet na região", concluiu.

Atividades do NIC.br

O IX.br (Brasil Internet Exchange), iniciativa do NIC.br e do CGI.br que compõe e promove a infraestrutura necessária para a interligação direta entre as redes que participam da Internet no Brasil, obteve em 2018 um pico de tráfego trocado de 6,11Tb/s, o que representa um crescimento de 65% em relação ao ano passado. Os números foram apresentados por Julio Sirota (NIC.br), que listou ainda a média de crescimento do tráfego dos PTTs ou IXs nos últimos oito meses: Salvador (BA) registrou um aumento de 160% (em decorrência do início da operação do Open CDN); Campinas 109%; Fortaleza 44% e Rio de Janeiro 43%.

Já em relação aos Sistemas Autônomos conectados, Sirota pontuou que o crescimento nos últimos 12 meses foi de 17%, o que representa 915 novos ASNs, sendo o crescimento daqueles conectados ao IX.br de 20% (538 novos ANSs). Os PTTs de Maceió, Teresina e São Luis passaram a operar em 2018, totalizando 31 localidades da iniciativa do NIC.br e CGI.br. Sirota também anunciou que, ao fim de 2018, a cobrança do IX.br recuperou os custos operacionais do IX São Paulo deste ano e, a partir de 2019, terá início a cobrança para a recuperação de custos operacionais do IX Rio de Janeiro.

Com início da operação em 2018 na Região Metropolitana de Salvador, o OpenCDN possui hoje 40 participantes ativos e três em processo de ativação, mais de 100 Sistemas Autônomos beneficiados direta ou indiretamente e mais de 320 mil usuários finais atendidos pela iniciativa. "O projeto é um sucesso, está tudo correndo bem. É importante que mais CDNs passem a aderir à iniciativa", afirmou Rodrigo Regis (NIC.br), lembrando também que o próximo passo será o rateio dos custos entre os participantes com o objetivo de que a iniciativa seja autossustentável. O Open CDN cria condições para diminuir a distância entre os conteúdos disponíveis on-line e os usuários locais de Internet e, na prática, representa melhoria na velocidade, no custo e na qualidade do acesso à Internet.

Ainda no que trata das atividades do NIC.br, em 2018 a equipe de ativação e migração de todas as localidades atendeu 4.297 chamados, de acordo com Antonio M. Moreiras (NIC.br), também responsável por apresentar a publicação "Endereços IP e ASNs - Alocação para Provedores Internet", primeiro de uma série de Fascículos sobre a Infraestrutura da Internet. Eduardo Morales (NIC.br) lembrou que o NIC.br realizou 10 encontros do IX Fórum Regional no ano de 2018, com mais de 700 participantes. Já Ricardo Patara (NIC.br), ao apresentar as atualizações sobre os recursos de numeração Internet, pontuou que a equipe do Registro.br atendeu 1.862 solicitações em 2018, com apenas 26 delas rejeitadas por não se adequarem às regras. "Com base no ritmo de alocações que se percebe no momento, o cenário mais provável é que o esgotamento de IPv4 aconteça em dezembro de 2019", alertou.

Por uma Internet mais Segura

O que é o programa 'Por uma Internet mais Segura' e como progrediu ao longo do último ano? Lançada há um ano no IX Fórum 11, a iniciativa do NIC.br tem o objetivo de promover a redução de tráfego malicioso na Internet no Brasil e melhorar a segurança de dispositivos de rede. Gilberto Zorello (NIC.br), coordenador do projeto, anunciou que um dos resultados do programa foi a redução de 53% dos endereços IPs abertos para a Internet e abusáveis utilizando o protocolo SNMP. "Apesar dos avanços, ainda há muito a ser feito, pois o Brasil está em 3º lugar no ranking de endereços IPs abertos para abuso, utilizando o protocolo SNMP", informou.

Entre as ações do 'Por uma Internet mais Segura' listadas por Zorello, estão o trabalho de conscientização com ISPs do Brasil a partir dos cursos BCOP e palestras; o projeto de incorporação do SIMET para medições de qualidade e adoção de medidas anti-spoofing (BCP 38) em produtos CPEs da indústria nacional e multinacional; e também reuniões técnicas com grandes operadoras para alinhamento de pontos preconizados pelo MANRS (Mutually Agreed Norms for Routing Security ou Normas de Acordo Mútuo para Segurança de Roteamento), iniciativa da ISOC (Internet Society).

Christian O'Flaherty (ISOC), em complemento, lembrou que os incidentes em decorrência de configurações incorretas no roteamento acontecem diariamente. "A única forma de mudar esse cenário é nos comprometermos publicamente com as ações do MANRS. Todos os responsáveis por configurações de roteamento devem se comprometer, para que não acabem impactando os serviços em outras redes", reforçou.

Também durante o painel sobre o programa 'Por uma Internet mais Segura', Lucimara Desiderá (NIC.br) apresentou a iniciativa conjunta do LACNOG e M3AAWG para elaboração do documento que define requisitos de segurança para compra de CPE (Customer Premises Equipment)’. "Os CPEs são aqueles equipamentos que as operadoras colocam na casa do usuário, e que em alguns casos ele também pode comprar, e servem para se conectar à rede do provedor. Esses equipamentos têm problemas seríssimos de segurança nativa, geralmente vem com uma série de serviços que são desnecessários, com configurações abertas e senhas padrões que facilitam a ação de atacantes para instalar malware e disferir ataques contra outras redes", alertou. O documento, que deve ser finalizado no início de 2019, possui requisitos de segurança para compra de equipamentos. “A proposta é que os ISPs usem as especificações de compra para demandar segurança aos fabricantes, a fim de que os equipamentos sejam entregues ao mercado com segurança by design e by default”, afirmou a especialista.

Ações do IX.br para proteger os servidores de rotas (route servers) e validação de prefixo foram comentadas por Julio Sirota (NIC.br), que apresentou os próximos passos dentro do programa 'Por uma Internet mais Segura', entre eles: análise de adequação para o uso da base publicada pelo Registro.br no FTP público, a publicação de nova versão do documento com a descrição das Communities BGP e ativação dos filtros.

Alex Castro (SindiTelebrasil) enfatizou que o programa do NIC.br traz segurança jurídica importante. "O setor de telecomunicações sempre defendeu autorregulação e essa iniciativa é uma autorregulação. As empresas junto com o NIC.br e outros atores identificam e tratam os problemas", afirmou. Breno Vale (Abrint) lembrou que boa parte dos pequenos ISPs não possui um grupo de segurança ou grupo técnico para defendê-los de ataques e fazer as configurações necessárias. "Cabe um pouco a nós, associação, fazer esse tipo de conscientização. Criamos um grupo de trabalho para conversar com os provedores associados e identificar quais ainda tem problemas e como trata-los". Eduardo Parajo (Abranet, Durand e CGI.br) também ressaltou a importância do trabalho multissetorial. "Precisamos envolver os consultores que estão atuando no mercado para que repliquem a informação para os ISPs brasileiros. Esse é um trabalho que envolve toda a comunidade, precisamos que todos estejam alinhados".

Realizada pelo NIC.br com recursos do registro de domínios .br, a VIII Semana de Infraestrutura da Internet no Brasil conta com o patrocínio platina do Google, Abranet e Oath, além do patrocínio ouro da Cisco, TDec Extreme, Seaborn, EPS Finisar, NTT Communications e Globenet. Confira os vídeos da transmissão do IX Fórum 12 na íntegra em https://www.youtube.com/playlist?list=PLQq8-9yVHyObS2FuksTBBUkP1D0KMF47n.