TIC Domicílios: em 20 anos, Brasil dá salto na universalização da Internet
Teletime - 31/10/2024 - [gif]
Autor: Marcos Urupá
Assunto: TIC Domicílios
A nova edição da pesquisa TIC Domicílios, lançada nesta quinta-feira, 31, mostra que em 20 anos, o Brasil segue a passos largos para a universalização do acesso à Internet. A pesquisa deste ano marca duas décadas do estudo e mostra que quando ele começou a ser realizado pelo Cetic.br, apenas 13% das residências em áreas urbanas do País tinham acesso à rede. Um contraste em relação à proporção registrada em 2024, que é de 85%.
Ao mesmo tempo, a pesquisa mostra que ainda hoje o Brasil possui cerca de 29 milhões de pessoas que não usam a Internet, indicando desafios ainda existentes na universalização do serviço.
A série histórica da pesquisa, lançada durante a 10ª edição da Semana de Inovação, promovida pela Escola Nacional de Administração Pública (Enap), mostra uma ampliação da presença da Internet no cotidiano do brasileiro. Enquanto, em 2005, 24% dos habitantes de áreas urbanas eram usuários da rede, em 2024, a porcentagem alcançou 86%, indicando que 141 milhões de pessoas se conectaram ao ambiente digital nos três meses anteriores ao estudo.
Se considerado o conceito ampliado de usuários de Internet, que abarca quem afirmou não ter acessado a rede, mas fez atividades online no celular, como usar redes sociais ou acessar websites, a porcentagem sobe para 90%, aponta o estudo.
Para Alexandre Barbosa, gerente do Cetic.br, as duas décadas de coleta de dados revelam um cenário bastante dinâmico, passando de 1 a cada 8 domicílios com Internet em 2005 para 7 a cada 8 domicílios conectados em 2024. Ele destaca também que a forma como as pessoas acessam a Internet também se transformou – já que em 2008, muitos usuários se conectavam à rede em lan houses ou 'Internet cafés', com acesso feito por meio de um computador. Atualmente, quase todos se conectam de seus domicílios e a partir de um smartphone.
A coordenadora do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), Renata Mielli, destaca que os 20 anos de produção de indicadores da TIC Domicílios têm ajudado a subsidiar políticas públicas de enfrentamento às desigualdades digitais no País
Desigualdades
O estudo também mostra que apesar do crescimento do acesso à Internet obtido nesses 20 anos, ainda existem desigualdades que precisam ser superadas. Os dados mostram que a Internet, por exemplo, está presente em 100% dos domicílios de classe A, mas em apenas 68% dos lares das classes DE.
Nas áreas urbanas, 85% das residências estão conectadas, enquanto nas rurais, a proporção é de 74%. Além disso, há 29 milhões de não usuários de Internet, sendo que 24 milhões deles moram em áreas urbanas, 22 milhões possuem até o Ensino Fundamental, 17 milhões se declaram pretos ou pardos e 16 milhões pertencem às classes DE.
A pesquisa revela, ainda, desigualdade em relação à qualidade desse acesso. Segundo indicador de conectividade significativa criado pelo Cetic.br, que inclui fatores como custo e velocidade da conexão, presença de banda larga fixa nos domicílios e acesso por múltiplos dispositivos, entre outros, apenas 22% dos indivíduos com 10 anos ou mais no Brasil têm condições satisfatórias de conectividade.
Estão nessa situação considerada satisfatória 73% dos indivíduos da classe A, 33% dos habitantes da região Sul e 28% dos homens, mas apenas com 16% das mulheres, 11% dos que vivem no Nordeste, e 3% dos indivíduos das classes DE.
Aumento do uso da TV
Os dados desta nova edição da TIC Domicílios ao mesmo tempo que apontam para um cenário geral de estabilidade dos indicadores, após os aumentos nos níveis de conectividade e de atividades online observados durante a pandemia de COVID-19, mostram uma tendência que vem se consolidando é a do acesso à Internet pelo aparelho de TV.
O dispositivo é o segundo mais utilizado para esse fim, com 60%, atrás apenas do telefone celular, usado por 99% dos brasileiros. Até 2019, o acesso pelo computador superava o pela TV – 42% contra 37% – mas em 2024, o acesso pela televisão ficou 20 pontos percentuais acima do pelo computador, na maior diferença histórica da série da pesquisa.
O estudo identificou, ainda, que 60% se conectam à rede pelo celular, mas não pelo computador, e 40% por ambos. Nas classes DE, as proporções foram de 86% e 13%, respectivamente. O acesso exclusivo por telefone celular também foi maior entre as mulheres, 66%, do que entre os homens, 54%; e maior entre pretos, 56%, e pardos, 66%, do que entre brancos, 51%.
Planos de telefonia
A pesquisa também mostra o tipo de plano de telefonia celular dos usuários brasileiros. Segundo os dados, dos brasileiros que possuem celular, mais da metade, 57%, conta com plano pré-pago, 20% têm plano pós-pago e 18%, plano "controle". Essa foi a primeira vez que se coletaram dados sobre este último tipo de plano, que possui características de ambas as modalidades anteriores. Esse dado, contudo, contrasta com os números coletados pela Anatel junto às operadoras, que mostram o pós-pago com maior participação no mercado.
Sobre a forma de conexão, 73% dos que acessam a Internet via telefone celular o fazem tanto por Wi-Fi quanto pela rede móvel. Entre aqueles da classe A, essa proporção é de 95%, enquanto nas classes DE, a porcentagem está na casa dos 57% – outros 37% se conectaram exclusivamente por Wi-Fi e 6%, somente pela rede móvel.
Habilidades digitais
A TIC Domicílios 2024 identificou também quais habilidades digitais estão mais presentes entre pessoas com maior escolaridade. Enquanto 80% dos usuários de Internet com Ensino Superior afirmaram ter buscado verificar a veracidade de uma informação encontrada no ambiente digital, essa proporção foi de 31% entre aqueles com Ensino Fundamental. De maneira geral, essa prática foi realizada por 52% dos usuários.
Alterações de configurações de privacidade para limitar compartilhamento de dados foram reportadas por 58% dos com Ensino Superior e 18% dos com Ensino Fundamental. Entre os que relataram não possuir nenhuma das habilidades digitais investigadas pela pesquisa, 51% tinham apenas Ensino Fundamental e 8%, Ensino Superior.