Tecnologia reflete desigualdades no País
Diário do Nordeste - 04/11/2009 - [ gif ]
Assunto: Indicadores
Na região Nordeste, mais da metade da população nunca utilizou um computador ou acessou a internet
Com desigualdades regionais marcantes em relação ao acesso à tecnologia pela população, o Brasil ainda se caracteriza por ser vários países em um. Indicadores importantes para o desenvolvimento, como o acesso a computador e à internet, são fortemente determinados por fatores como renda, classe social e região. A constatação é da Pesquisa sobre o Uso das Tecnologias da Informação e da Comunicação no Brasil (TIC 2008), divulgada pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br).
Entre os destaques da pesquisa chama a atenção o fato de que 57% da população no Nordeste nunca usou um computador. Este é o percentual mais alto entre todas as regiões - comparando com Sudeste (46%), Sul (49%), Norte (51%) e Centro-Oeste (43%). A região também tem o maior percentual de pessoas que nunca acessaram a internet (65%), contra 64% do Norte, 57% do Sul, 53% do Sudeste e 50% do Centro-Oeste.
No Nordeste, bem como no Norte do país, a parcela de domicílios com acesso à internet não ultrapassa 9% - enquanto na região Sudeste a proporção é de 26% e no Sul e Centro-Oeste é de 23%. Quanto à proporção de domicílios com computador, o Nordeste ressalta ainda mais as diferenças regionais. A região conta com 11% de lares com o equipamento, ficando atrás das demais. No Norte, 15% dos domicílios possuem computador. No Sudeste a parcela é de 33% e no Sul e Centro-Oeste é de 30%.
Ritmo lento
"Nas regiões Sudeste e Sul, a taxa de crescimento de domicílios com computadores é de cerca de cinco pontos percentuais ao ano, ao passo que esse crescimento não chega a dois pontos percentuais no Nordeste e a três pontos percentuais no Norte", aponta o estudo.
Para a maioria dos nordestinos, o custo elevado é o principal impeditivo do acesso à tecnologia. Este é o motivo alegado por 80% dos entrevistados na região no caso da falta de computador no domicílio. Quanto ao acesso à internet, o alto custo do serviço é citado por 57% dos entrevistados nordestinos que têm computador mas não contam com uma conexão. "A comparação histórica revela que nos últimos quatro anos a principal barreira à posse de computador ou da internet é o custo, seguida pela falta de habilidade", avalia Alexandre Barbosa, do Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação.
De fato, na faixa da população brasileira que tem renda de até um salário mínimo e nas classes D e E, a penetração do acesso à internet é de apenas 1%, enquanto atinge 81% na faixa de dez ou mais salários e de 91% na classe A. O estudo aponta que a população de baixa renda tem encontrado nos centros públicos de acesso pago ou gratuito uma alternativa de baixo custo para acessar a rede.
De acordo com o estudo, a inclusão de cerca de metade da população brasileira ocorreria se o custo do acesso à internet fosse de R$ 30, já que 53% estariam dispostos a pagar este valor pelo serviço. O patamar de R$ 50 cobrados pelo serviço de conexão à internet nos domicílios é capaz de excluir 65% da população brasileira. Outra constatação é que 46% da população estaria disposta a comprar um computador por até R$ 1 mil. No Nordeste, esta parcela cai para 36%.
Para o acesso à internet, o valor mínimo mais comum de um plano de banda larga na região, como acontece no Ceará, é de cerca de R$ 70. Pela pesquisa, somente 16% dos nordestinos estão dispostos a pagar esse valor mensal por uma conexão de banda larga. Se o valor fosse de R$ 30, 46% estariam dispostos a contratar o serviço e, sendo R$ 20, 59% dos lares teriam o acesso. Hoje, a maior parte dos usuários de internet no Nordeste (48%) ainda utiliza conexões com velocidades entre 64 e 256 Kbps.
Na avaliação de Alexandre Annenberg Netto, representante do segmento dos provedores de infraestrutura de telecomunicações, para superar os problemas que impedem a maior distribuição da banda larga à população é preciso que o Estado faça a sua parte. "Instrumentos para isso não faltam: renúncia fiscal, financiamentos subsidiados, condições especiais para consumidores de baixa renda", sugere. "Com uma carga tributária de mais de 40%, sem contar os encargos trabalhistas, nossos serviços de telefonia são dos mais caros do mundo. E isso torna o desafio da universalização da banda larga ainda mais complexo", diz.
TRAÇOS NORDESTINOS
E-mail grátis e antivírus atualizado offline
O Nordeste é a região do país onde mais se utilizam os serviços de e-mail pessoais gratuitos. Segundo a pesquisa do CGI.br, esta é a opção preferida por 85% dos usuários de internet da região - acompanhados de perto pelos usuários do Sul (83%) e do Centro-Oeste (82%). No Sudeste, o correio eletrônico gratuito é utilizado por 78% e, no Norte, por 73%. Com relação ao percentual de pessoas que usam a internet mas não têm e-mail, o Nordeste fica na quarta posição, com 13%. A região Norte é a que tem a maior proporção de usuários sem e-mail (22%), seguida pelo Sudeste (15%) e Centro-Oeste (14%). O Sul tem 11%.
Outros detalhes interessantes que a pesquisa revela sobre os nordestinos é que eles são os que mais atualizam seus antivírus diariamente, um hábito de 35%. Assim como acontece no resto do país, o Windows é o sistema operacional mais utilizado nos lares nordestinos, presente em 84% das casas com computador. O sistema de livre distribuição Linux está em 2% dos lares que têm computador, o mesmo nível registrado no Norte e Centro-Oeste. No Sul e Sudeste, apenas 1% utiliza este software livre.