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08 NOV 2023

Tecnologia digital: o elo entre professores e estudantes


Revista Educação - 7/11/2023 - [gif]


Autor: Diego Sette
Assunto: TIC Educação

 A vida do professor, que já não era simples, passou a ficar ainda mais desafiadora com a chegada (e instalação) das novas tecnologias na sala de aula. Acompanhamos, especialmente na pandemia, a forma como as ferramentas digitais viabilizaram uma redefinição na forma como a educação é ministrada e recebida. 

Essa nova dinâmica, sob o impacto da tecnologia, já estava oficialmente contemplada no Brasil desde 2018 pela nova Base Nacional Comum Curricular (BNCC) — documento do MEC que entre uma série de apontamentos, prevê que os estudantes desenvolvam, ao longo da educação básica, a competência para compreender e utilizar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais.

Como os educadores estão situados agora que sua relação com o estudante passou a ser mediada, ou intermediada, pela tecnologia? Como docentes e alunos navegam nesta era digital e quais são os desafios e oportunidades que ela apresenta para ambas as partes?

A pesquisa Skills outlook: employee view, produzida pela Pearson em parceria com o Google, traduz esse novo momento. Segundo o estudo, atualmente os brasileiros estão priorizando o aprendizado por meio de plataformas digitais e aplicativos, e já consideram cursos rápidos e treinamentos intensivos online como as melhores formas para se avançar na carreira. Essa conclusão reforça o crescimento de ferramentas tecnológicas na educação e qualificação cotidiana.

Cautelas nas decições

Nós, professores e profissionais envolvidos diretamente com o ensino precisamos adotar uma atitude de cautela para extrair o que a tecnologia pode oferecer de melhor — para nós e para os alunos. É necessário, por exemplo, ampliar ainda mais as nossas discussões acerca dos métodos de ensino a fim de identificar quais deles envolvem os alunos de forma mais eficaz neste ambiente tecnológico. 

Na ausência de interações presenciais, é igualmente essencial manter a conexão humana entre mestres e alunos, a fim de promover um sentimento de pertencimento e confiança.

Sabemos, por exemplo, que duas das grandes vantagens das tecnologias são a flexibilidade e a acessibilidade. A utilização de videochamadas, plataformas de chat e ferramentas colaborativas se tornaram constantes na educação formal.

No entanto, no Brasil, todas essas possibilidades ainda não estão ao alcance de todos. A pesquisa TIC Educação, realizada pelo Cetic.br com base em um quórum de 3,6 mil escolas brasileiras e 1,8 mil professores, mostra dificuldades no ensino remoto e na execução de atividades pela internet ou com uso de aparatos digitais. 

Segundo o estudo, na rede pública, 95% dos educadores apontam que os pais enfrentam apuros para conseguir apoiar os filhos nas atividades. Em instituições privadas, o índice ainda é de 88%. Portanto, ainda temos barreiras a romper.

Educação digital

Os professores, por outro lado, têm a oportunidade de promover a ampliação do acesso à educação por meio de instrumentos que aprimoram a experiência do aluno — a exemplo de sistemas de reconhecimento de voz, gamificação, recursos de acessibilidade para daltônicos, disléxicos e pessoas com baixa visão, além de outras soluções voltadas exclusivamente para crianças. Ainda há a oportunidade de aproveitar dados e análises para adaptar os métodos de ensino às necessidades individuais dos alunos e do coletivo.

Na teoria, a oportunidade descrita acima é real. No entanto, para que esta saia do plano do discurso e atinja a realidade das salas de aula, é necessário que ambas as partes sejam alfabetizadas digitalmente e se tornem tecnologicamente competentes. 

É essencial que sejam discutidas e definidas políticas públicas para um plano nacional de educação digital com a escuta dos professores e métricas para mensurar sua eficácia com olhar para os alunos — a fim de saber se estão surtindo o efeito positivo esperado. 

Dessa forma, os docentes podem aplicar de forma mais segura e consciente as tendências e ferramentas de tecnologia educacional, ao passo que os estudantes aprendem competências de literacia digital para navegarem de maneira proveitosa na sala de aula virtual.

Relação entre professor e estudante

Devemos considerar, ainda, outros obstáculos no âmbito das políticas públicas multidisciplinares (nas áreas de educação, ciência e tecnologia, comunicação e saúde): falhas técnicas; problemas de conectividade; fadiga da tela como adversos à experiência de aprendizagem e questões de segurança digital, por exemplo.

Mas para além de todos esses desafios, saber mediar a construção do aprendizado nesses novos tempos já tem sido uma construção diária do professor nesses novos tempos. Entendemos que cabe aos órgãos públicos a regulação do ensino em plataformas digitais, assim como acontece na educação convencional.

No entanto, o educador também assume um papel inestimável na era digital: agem também como facilitadores experientes em tecnologia, orientam os alunos nas complexidades da aprendizagem virtual e tecnológica e se colocam entre as máquinas e os aprendizes, de modo a humanizar as experiências e adequá-las à realidade. É fundamental celebrar a relação única entre docentes e estudantes nessa nova era, que permanece inabalável na educação contemporânea.

Em última análise, a dinâmica entre eles é um equilíbrio delicado que exige adaptação contínua, apoio de inúmeros players e uma compreensão profunda das necessidades e expectativas de ambas as partes. Ao fazê-lo, podemos navegar com sucesso e aproveitar ao máximo as oportunidades que a tecnologia oferece para aprimorar a educação e preparar os alunos para um mundo que, ao final, será uma extensão de sua sala de aula.