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11 AGO 2015

Superexposição facilita acesso indevido aos dados


Valor Econômico - 10/08/2015 - [gif]


Autor: Paulo Vasconcelos
Assunto: Privacidade na Internet

Fascinado pelo maravilhoso mundo novo da mobilidade, o brasileiro foi pego desprevenido pela invasão de privacidade e pela rapidez com que começa a ter a sua vida exposta na rede.

Para a nova geração, que nasceu compartilhando informações, o problema tem uma dimensão aparentemente mais sutil da que é percebida por quem tem 40 anos ou mais. Mas já começa a se formar uma consciência que é preciso atenção. Ninguém que use telefones celulares, dispositivos pessoais conectados ou rastreadores de automóveis consegue mais se manter anônimo na multidão. Em geral, o que se vê, dizem alguns especialistas, é um comportamento de risco eletrônico.

"As pessoas têm que aprender como usar a internet. Não é o site que invade a privacidade, é o usuário que autoriza que ele invada a privacidade", explica Bruno Prado, CEO da UPX, empresa de infraestrutura de internet com mais de 7 mil servidores espalhados pelo mundo, que garantem a performance e a segurança de sites de mais de 500 clientes no Brasil e no exterior. Isso inclui bancos, lojas virtuais, universidades e órgãos governamentais, e são responsáveis por 5% de todo o tráfego da rede no país.

"Adolescentes não têm tanta preocupação com o sigilo, mas o brasileiro, em geral, aceita liberar seus dados pessoais se ganhar alguma coisa em troca", afirma Fernando Neves, diretor da AirTight Networks, um dos maiores provedores globais de serviços gerenciados de redes Wi-Fi em nuvem.

O dilema na relação do usuário com a internet passa por conflitos variados. Há falta de conhecimento técnico de como as informações são usadas na rede. Protocolos podem aumentar a segurança e a privacidade na troca das informações na internet, mas isso depende do conhecimento de quem usa a rede e é meio como vírus: basta criar controle para um e já criam outro.

Há a preguiça do usuário, que não lê o contrato para o uso do serviço, mas também existe a malícia de quem elabora o contrato ao apostar na falta de vontade do usuário em ler tudo. Sem falar no conflito de gerações com o advento da internet.

"Meu irmão, oito anos mais novo, posta nas redes sociais coisas inapropriadas para os meus parâmetros com a certeza de que no dia seguinte ninguém nem vai lembrar disso. A nova geração não usa e-mail para se comunicar, mas o Facebook ", diz Lisandro Granvile, pós-doutor em Ciência da Computação pela Universidade de Twente, na Holanda, vice-presidendente da Sociedade Brasileira de Computação (SBC), professor adjunto do Instituto de Informática da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e também integrante do CGI.br. "No dia que entrar no mercado de trabalho, que funciona diferente, pode ter problemas. A sorte é que deve encontrar no RH alguém da mesma geração, que vai perdoar."

Empresas que atuam com e-commerce ou fornecem infraestrutura de internet estão atentas aos movimentos e reações dos consumidores. A Aker Security Solutions, criada há quase duas décadas por três estudantes de tecnologia da informação da Universidade de Brasília (UnB), desenvolve e comercializa soluções de ciberdefesa e de segurança de tecnologia da da informação.

Hoje tem escritório em Brasília, colaboradores em home office em São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba e Cuiabá, um quadro de 118 colaboradores e uma base ativa de 4 mil clientes, como o Ministério da Agricultura e Pecuária e a rede de Drogarias Pacheco. "A tecnologia e seu uso massivo são fenômenos ainda muito novos. Ainda não desenvolvemos maturidade sobre o tema. O importante é não deixarmos de observar o que é ético e o que efetivamente melhorará a vida da população", diz Wolmer Godói, vice-presidente da Aker Security Solutions.

"Empresa que busca proximidade com o cliente precisa de bom senso para não prejudicar o negócio. Propaganda por SMS é considerada intrusiva, já pelo WhatsApp é mais aceita. Quem pega e-mail e bombardeia o cliente acaba bloqueado", afirma Fernando Neves, diretor da AirTight Networks.

A empresa tenta difundir entre o comércio a ideia de que a disponibilização de internet grátis aos consumidores pode ser uma alavanca para os negócios, mas que é preciso cuidado com o risco de elevar ainda mais a exposição do usuário à invasão de privacidade e violabilidade de seus dados pessoais. Uma varredura nos Aeroportos de Guarulhos e Congonhas, em São Paulo, revelou a fragilidade dos pontos de acesso Wi-Fi. Em uma hora foram identificados 240 pontos de acesso, 86 deles abertos, sem a exigência de senhas. Seis receberam classificação máxima na escala de riscos de segurança detectados pela ferramenta.

"Os cursos de computação não apresentam o desafio da segurança durante a programação, mas depois. São reféns do passado", diz Lisandro Granvile, da UFRGS.