NIC.br

Ir para o conteúdo
19 MAR 2024

Prontuário eletrônico: o que é, benefícios e desafios para implementação


Futuro da Saúde - 18/3/2024 - [gif]


Assunto: Digitalização da saúde

O avanço tecnológico na medicina tem proporcionado ferramentas que auxiliam na melhoria dos cuidados de saúde e na gestão mais eficaz. Dentre elas, o prontuário eletrônico se destaca. Ele surge como uma solução que pode gerenciar informações de pacientes automatizando processos. 

O prontuário eletrônico do paciente (PEP) tem sido adotado por cada vez mais hospitais e clínicas. Por proporcionar acesso rápido e fácil ao histórico completo do paciente, pode melhorar a prática médica. No entanto, esse sistema requer cuidados especiais com a segurança e o tratamento dos dados, pois envolve a gestão de informações sensíveis. Nesse sentido, é crucial ter pleno conhecimento das normas e leis relacionadas ao utilitário antes de sua implementação.

O que é um prontuário eletrônico?

Resolução 1.638 de 2002 do Conselho Regional de Medicina (CRM) define um prontuário médico, seja de papel ou eletrônico, como “o documento único constituído de um conjunto de informações, sinais e imagens registradas, geradas a partir de fatos, acontecimentos e situações sobre a saúde do paciente e a assistência a ele prestada, de caráter legal, sigiloso e científico, que possibilita a comunicação entre membros da equipe multiprofissional e a continuidade da assistência prestada ao indivíduo”.

Além disso, a Resolução nº 7 de 2016 do Ministério da Saúde, que instituiu o prontuário eletrônico na Saúde Básica, o define como um depósito de informação mantido de maneira eletrônica, onde todas as informações de saúde, clínicas e administrativas de um indivíduo são armazenadas. Suas principais características incluem acesso rápido aos problemas de saúde e intervenções atuais, recuperação de informações clínicas, e sistemas de apoio à decisão, dentre outros recursos.

Dessa forma, o prontuário eletrônico do paciente (PEP) é uma compilação digitalizada de informações abrangentes relacionadas à saúde do paciente. O uso dessa tecnologia, portanto, elimina a necessidade de prontuários físicos, que podem ser difíceis de gerenciar, pesquisar e compartilhar. Assim, ajuda a garantir que todos os profissionais de saúde envolvidos no cuidado do paciente tenham acesso às informações mais atualizadas.

Elementos e recursos do prontuário eletrônico

De acordo com o CFM, um prontuário eletrônico deve conter:

  • Identificação do paciente, com nome completo, data de nascimento (dia, mês e ano com quatro dígitos), sexo, nome da mãe, naturalidade (município e o estado de nascimento), endereço completo (nome da via pública, número, complemento, bairro/distrito, município, estado e CEP); 
  • Anamnese, exame físico, exames complementares solicitados e seus respectivos resultados, hipóteses diagnósticas, diagnóstico definitivo e tratamento efetuado; 
  • Evolução diária do paciente, com data e hora, discriminação de todos os procedimentos aos quais o mesmo foi submetido e identificação dos profissionais que os realizaram. Além disso, precisam estar assinados eletronicamente quando elaborados.

O PEP também deve ter espaço para incluir detalhes sobre o histórico médico do paciente. Ou seja, doenças crônicas e passadas, intervenções médicas, medicamentos em uso, alergias e resultados de exames realizados, juntamente com imagens de exames. O sistema também deve ser capaz de fornecer sistemas de apoio à decisão. Em outras palavras, precisa permitir que os profissionais de saúde acessem rapidamente problemas de saúde e intervenções do paciente.

A prescrição eletrônica de medicamentos é outro recurso útil. Ela pode oferecer meios para verificar interações medicamentosas e alertas de alergias, ajudando a prevenir problemas.

Enfim, o agendamento de consultas e o acompanhamento dos pacientes são outros recursos disponíveis em muitos prontuários eletrônicos. Eles facilitam a organização de consultas, lembram os pacientes de futuros compromissos e ajudam a monitorar o progresso do tratamento ao longo do tempo.

Usabilidade e segurança

O prontuário eletrônico ainda deve oferecer uma maneira fácil e eficiente de gerenciar e recuperar informações. Isso pode ser especialmente útil em situações de telemedicina. Os dados precisam estar todos em um só lugar. Uma boa usabilidade também facilita o trabalho dos profissionais que acessam o sistema.

Além disso, é essencial que o prontuário eletrônico seja flexível e capaz de se adaptar a diferentes necessidades. Por exemplo, alguns sistemas podem armazenar dados em um servidor local, enquanto outros usam a nuvem. Há também a opção híbrida, onde os dados são armazenados tanto localmente quanto na nuvem.

Por fim, o armazenamento das informações de saúde de um paciente deve ser feito de uma forma segura. Ou seja, preservando a privacidade e confidencialidade do paciente. Por isso, o prontuário eletrônico precisa seguir determinadas normas e regulamentações, inclusive a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).

Benefícios e vantagens do uso do prontuário eletrônico

O prontuário eletrônico traz benefícios e vantagens para a saúde, tanto para profissionais quanto para pacientes. É uma ferramenta que, quando bem usada, melhora a eficiência, segurança, coordenação e qualidade dos cuidados de saúde. Vamos detalhar essas vantagens abaixo.

  • Acesso rápido e fácil às informações de saúde dos pacientes
    Os profissionais de saúde podem obter o histórico médico completo de um paciente em segundos, economizando tempo em situações emergenciais e melhorando o fluxo de trabalho geral.
  • Compartilhamento seguro de informações entre profissionais de saúde
    Médicos, enfermeiros, farmacêuticos e outros profissionais de saúde podem ter acesso simultâneo às informações mais atualizadas dos pacientes, melhorando a comunicação e a colaboração interdisciplinar.
  • Melhoria na coordenação e continuidade dos cuidados de saúde
    Os profissionais de saúde podem acompanhar as consultas dos pacientes, suas medicações, exames realizados e o progresso do tratamento. Assim, isso pode resultar em melhores resultados de saúde e maior satisfação do paciente.
  • Redução de erros de medicação e duplicação de exames
    Com o histórico completo e atualizado dos pacientes, os prontuários eletrônicos podem ajudar a reduzir esses erros. Eles permitem que os profissionais de saúde vejam quais medicamentos um paciente está tomando e quais exames foram realizados recentemente.
  • Apoio à tomada de decisões clínicas baseada em evidências
    Os PEP podem oferecer acesso a diretrizes clínicas atualizadas, ferramentas de apoio à decisão e informações relevantes ao atendimento. Tudo isso pode melhorar a qualidade dos cuidados e a segurança do paciente.
  • Possibilidade de análise de dados para melhorias na assistência
    Os prontuários eletrônicos podem ajudar a identificar padrões de doenças e avaliar a eficácia de diferentes tratamentos. Também podem detectar problemas de saúde em uma população. Essas informações podem ser usadas para orientar políticas de saúde e estratégias de melhoria da qualidade.

Como é o uso do prontuário eletrônico no Brasil

No Brasil, a adoção do prontuário eletrônico está se tornando cada vez mais comum, tanto na rede pública quanto privada. Segundo o relatório TIC Saúde 2022 , do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic), 88% dos estabelecimentos de saúde naquele ano já contavam com algum tipo de sistema eletrônico para registro das informações dos pacientes.

Nos estabelecimentos privados, o número chegava a 91%. Já na rede pública, o percentual era de 85%, mostrando estabilidade na comparação com o ano anterior. Em relação aos tipos de estabelecimento, as Unidades Básicas de Saúde (UBS) apresentaram tendência de aumento na adoção, chegando a 89%.

Os números da rede pública se devem, em grande parte, à política de informatização da Atenção Primária (Informatiza APS), instituída em 2019. Segundo o Ministério da Saúde, o programa busca ampliar a adoção de sistemas de prontuários capazes de compartilhar e consumir informações clínicas coletadas em diferentes estabelecimentos de saúde.

Em julho de 2021, a pasta lançou o sistema Conecte-SUS Profissional, um prontuário eletrônico onde ficam reunidas todas as informações do médico e do paciente. Segundo o governo, quando o profissional atualiza os dados no prontuário, o paciente recebe uma notificação no aplicativo Conecte-SUS Cidadão. As informações podem ser acessadas por meio do celular, computador ou tablet, utilizando o CPF.

Recentemente, o Ministério da Saúde e a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) anunciaram uma parceria para levar o Aplicativo de Gestão para Hospitais Universitários (AGHU) a toda média e alta complexidade do SUS. O objetivo do governo é alcançar mais de 3 mil hospitais distribuídos pelo país, sendo 500 já na primeira fase. Com isso, há a expectativa de uma economia entre R$ 2 bilhões e R$ 3 bilhões nos próximos cinco anos.

Apesar dos dados e dos avanços, recentemente, duas empresas de consultoria, a L.E.K e a FOLKS, desenvolveram estudos que buscam mapear o índice de maturidade digital das instituições de saúde a partir de metodologias de autoavaliação baseadas em alguns critérios específicos. Os levantamentos apontam que os diversos segmentos que compõem a cadeia de saúde apresentam níveis distintos de maturidade digital, ora por enfrentarem desafios específicos, ora pelas próprias diferenças tecnológicas e socioeconômicas regionais.

Um dos relatórios ressalta que os hospitais brasileiros, em específico, avançaram em sistemas críticos, mas ainda não conseguiram integrar os dados de forma ideal. Enquanto isso, as farmacêuticas e medtechs têm uma maturidade digital relativamente baixa em todas as dimensões consideradas.

Legislação

No Brasil, a legislação estabelece certas diretrizes e requisitos para o uso do prontuário eletrônico. A Resolução 1.638 de 2002 do Conselho Federal de Medicina dispõe sobre normas técnicas para o uso de sistemas eletrônicos de informação de pacientes. 

Já a Lei 13.787 de 2018 dispõe sobre a digitalização e a utilização de sistemas informatizados para a guarda, o armazenamento e o manuseio de prontuário de paciente. Tanto essa legislação quanto a resolução do CFM determinam que os prontuários médicos e informações eletrônicas de saúde dos pacientes devem ser mantidos por pelo menos 20 anos antes que possam ser excluídos.

Na saúde básica, a implementação do prontuário eletrônico se deu através da resolução nº 7 de 2016 do Ministério da Saúde, citada anteriormente.

A legislação brasileira também dá grande ênfase à proteção de dados. A LGPD estabelece que os dados sensíveis devem ser tratados com segurança, prevenindo vazamentos e garantindo o direito à privacidade. A lei também permite que o paciente, que é o proprietário das informações, solicite a exclusão e a correção de informações armazenadas em bancos de dados a qualquer momento.

Desafios para implementação do prontuário eletrônico

Embora o prontuário eletrônico traga benefícios para a gestão do cuidado à saúde, também apresenta desafios. Os principais são:

  • Padronização e interoperabilidade dos prontuários eletrônicos
    Isso se refere à capacidade de diferentes sistemas de prontuários eletrônicos se comunicarem, o que é essencial para um compartilhamento efetivo de informações. Sem padrão unificado, a transferência de dados entre plataformas pode ser complexa e ineficiente.
  • Integração com sistemas de saúde e compartilhamento de dados
    integração com outros sistemas de saúde, como laboratórios de análises, hospitais e farmácias, é desafiadora. Para que o prontuário eletrônico funcione de forma ideal, é preciso haver compartilhamento de dados adequadamente. Isso pode ser complexo devido a diferentes padrões e protocolos utilizados pelos sistemas.
  • Privacidade e segurança das informações no prontuário eletrônico
    É vital garantir que as informações estejam seguras e protegidas, prevenindo acessos não autorizados e violações de dados. Isso requer um investimento em tecnologias e protocolos de segurança.
  • Usabilidade e interface do prontuário eletrônico
    Uma interface de usuário mal projetada pode levar a erros de entrada de dados. Já uma intuitiva pode melhorar a eficiência e a precisão. O design precisa ser considerado para garantir que seja fácil de usar e eficiente.
  • Integração de novas tecnologias, como a inteligência artificial (IA)
    inteligência artificial pode oferecer novas possibilidades para análise de dados e tomada de decisões. Entretanto, também levanta questões éticas sobre o uso de algoritmos e a garantia da qualidade das decisões baseadas em IA.

Por fim, é essencial abordar esses desafios e considerações éticas para garantir que eles sejam usados de maneira eficaz e responsável. Apesar disso, a adoção do prontuário eletrônico é fundamental. Com a devida implementação e uso consciente, ele tem o potencial de aprimorar a qualidade do atendimento e a experiência geral dos profissionais de saúde e dos pacientes.