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03 ABR 2024

O perigo real do uso excessivo de telas para o desenvolvimento das crianças


Portal Doris Pinheiro - 3/4/2024 - [gif]


Autor: Doris Pinheiro
Assunto: TIC Kids Online Brasil

Especialistas revelam que a falta de controle no uso de dispositivos eletrônicos pode provocar consequências no desenvolvimento físico, emocional e cognitivo das crianças

Com o avanço tecnológico, o uso indevido de telas por crianças se tornou um problema da sociedade moderna. A preocupação é tão grande que nesta semana o governo federal instituiu um grupo de trabalho (GT), constituído por sete ministérios e 19 representantes da sociedade civil, da acadêmica e de entidades com reconhecimento na área, para produzir um guia sobre o seu uso de forma consciente.

Criado a partir de uma iniciativa da Secretaria de Políticas Digitais da Secretaria de Comunicação Social (Secom), a exposição excessiva a aparelhos móveis – mesmo aos televisivos – é preocupante, já que cerca de um terço dos usuários da Internet no mundo são crianças e adolescentes, segundo dados da pesquisa TIC Kids Online, produzida pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil. Essa prática pode provocar sérias consequências para o desenvolvimento físico, emocional e cognitivo delas.

Impactos Físicos

É necessário modelar um comportamento saudável em relação ao ambiente digital e incentivar outras formas de atividades e entretenimento para que assim não criem hábitos sedentários, contribuindo para o surgimento de doenças como obesidade infantil, distúrbios do sono e fadiga crônica.

“Quanto mais sedentárias, maiores as chances de a obesidade surgir precocemente, podendo permanecer até a fase adulta. Conforme estudos, 80% das pessoas que se encontram com sobrepeso ou estão obesas desenvolveram a doença quando jovens. Além disso, são maiores as chances de desenvolver doenças crônicas como diabetes, hipertensão arterial, ovário policístico e esteatose hepática”, explica a Dra. Flávia Magalhães, médica e nutricionista, especialista em gestão de saúde e performance de atletas.

O Atlas Mundial da Obesidade revelou que cerca de 750 milhões de jovens entre 5 e 19 anos sofrerão com sobrepeso e obesidade até 2035. O estudo produzido pela Federação Mundial de Obesidade e traduzido pelo Instituto Cordial/Painel Brasileiro da Obesidade (PBO) aponta ainda que haverá um aumento de mortes prematuras e desenvolvimento de Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT).

Renato Loffi, fisioterapeuta neurofuncional e CEO da Treinatec, empresa de tecnologia assistiva, ressalta que nos casos das crianças portadoras de deficiência problemas como crescimento ósseo desproporcional e limitações motoras podem ocorrer: “Nosso tecido é moldado pelo uso, pelo desuso e pelo uso excessivo. Uma criança com paralisia cerebral, por exemplo, tem um tendão grande, um osso relativamente do tamanho esperado, mas uma parte muito pequena da estrutura muscular, que não gera força. Isso leva a um processo de constante remodelação tecidual. Portanto, a prática de atividades físicas contribui para o bem-estar emocional, social e sensorial dessas crianças, proporcionando desenvolvimento integral”.

Impactos emocionais

Passar muito tempo em frente às telas pode limitar o desenvolvimento socioeducativo das crianças, afetando suas habilidades sociais e emocionais como empatia e resolução de conflitos. Além disso, muitas vezes, elas estão sujeitas a influências e conteúdos inapropriados ou violentos, podendo desencadear um comportamento negativo sobre elas.

Segundo dados da Secretaria de Políticas Digitais da Secretaria de Comunicação Social (Secom), entre 2019 e 2022, houve crescimento de 64% nas taxas de lesões autoprovocadas intencionalmente por crianças e adolescentes, em situações como tentativas de suicídio, por exemplo.

Impactos cognitivos

A falta de desenvolvimento cognitivo pode também trazer danos irreversíveis na limitação do cérebro infantil. A preocupação é tão grande que a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) emitiu uma nota, em setembro do ano passado, sobre os riscos do “analfabetismo físico”, termo que caracteriza a inatividade de crianças e jovens ao executarem movimentos motores e de coordenação básicos como correr, pular, arremessar e se equilibrar.

Além disso, a falta de estímulos pode afetar a atenção, concentração e habilidades de resolução de problemas das crianças, como também, reduzir a capacidade das crianças de pensar de forma crítica e criativa.

Para Alessandro Tomazelli, CEO da Cia do Tomate, empresa de recreação infantil, levar crianças e jovens para atividades recreativas é uma prática essencial para o desenvolvimento motor e mental. “O próprio ato de brincar não pode vir como uma obrigação. Vivemos em uma sociedade em que o acesso à tecnologia é fácil e ágil, e o tempo conectado está aumentando entre as crianças e adolescentes. É necessário que as atividades recreativas venham como um momento de relaxamento e conectividade, para que assim elas possam expandir habilidades cognitivas, sociais e criativas. Fatores essenciais para a construção do crescimento físico e intelectual”.