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27 JUL 2018

Novo sistema de marcação de consulta dificulta acesso ao Procape


Folha de Pernambuco - 26/07/2018 - [gif]


Autor: Renata Coutinho
Assunto: Indicadores

Marcação de consultas eletivas e exames pela internet virou pedra no sapato de quem não tem conexão ou habilidade com a web


A tecnologia tem virado uma pedra no sapato de pacientes, principalmente dos idosos e daqueles que moram em área sem acesso à internet e necessitam de assistência no Pronto Socorro Cardiológico de Pernambuco (Procape). O problema está no sistema de marcação de consultas eletivas e exames. A unidade determinou que o agendamento desses procedimentos seja feito exclusivamente pela internet. Sem habilidade com dispositivos de acesso, como computadores ou smartphones, e sem destreza em navegar pelo site da instituição, muitos pacientes ficam sem conseguir fazer as marcações ou confundem os prazos dos atendimentos. Alguns acabam indo em busca de ajuda presencial no hospital, mas voltam frustrados. Outros, no desespero, acabam buscando socorro na emergência da unidade, mesmo para casos de baixa complexidade. O resultado dessa atitude extrema reflete-se na superlotação contínua da emergência, que desde o último final de semana vem registrando episódios de plantão fechado.
“É uma dificuldade essa marcação pela internet. Tem que ficar o dia todo tentando, e quando a gente consegue já diz que não tem mais vaga disponível. Já trouxe duas vezes minha esposa direto para a emergência porque não conseguimos uma consulta normal”, contou Eudes de Santana, 60. Joel Datz, 72 anos, também falou de dificuldades. No caso dele, o problema é a não familiaridade com a web e também o fato de nem ter computador. “Eu nem sei mexer, nem tenho computador. Quando preciso fazer uma marcação, sempre peço para algum amigo me ajudar. Para quem tem esses problemas é complicado”, disse o idoso, que apontou, por outro lado, a comodidade de não ficar indo e vindo ao Procape para tentar marcar os procedimentos presencialmente.

Para Joelma de Almeida, 35, e sua mãe, Jerusa de Almeida, 57, a questão principal é a inexistência de sinal de internet na zona rural de Custódia, no Sertão, onde ambas residem. “Não dá área. Mesmo quando a gente consegue internet é complicado demais marcar. Na maioria das vezes a gente pede para alguém da Secretaria de Saúde de lá ficar tentando”, contou Joelma. Jerusa apontou que uma saída seria o agendamento via telefone. “É mais fácil e todo mundo tem”, justificou. Os desafios de conexão reforçam os dados de pesquisa divulgada pelo Comitê Gestor da Internet do Brasil, que identificou que 51% dos domicílios do Nordeste ainda não têm acesso à web e só 33% dos lares têm computador.

O gestor executivo do Procape, unidade vinculada ao complexo hospitalar da Universidade de Pernambuco (UPE), Ricardo Lima, explicou que o sistema on-line para marcação existe há cerca de três anos e foi pensado para melhorar o fluxo de agendamento no local. “O modelo anterior era altamente cruel, porque o indivíduo tinha que vir presencialmente, entrar em uma fila para fazer uma marcação. Evitamos que ele venha duas vezes ao hospital. E evitamos também que eles madruguem para pegar um melhor lugar (nas filas)”, enfatizou.

Ricardo Lima explicou que a rotina anterior fazia com que o paciente precisasse se deslocar até o Procape, muitos vindo de cidades distantes, para tentar marcar o procedimento. E não havia garantia da vaga porque o número de fichas distribuídas ficava aquém da demanda, provocando uma disputa sofrida entre os pacientes. Ricardo Lima informou ainda que a criação de uma central de marcação por telefone é inviável porque não há recurso. Apontou ainda que as centrais de regulação de saúde municipais podem intervir na questão, intermediando nos agendamentos de saúde dos moradores de suas cidades, já que esta é uma das suas atribuições próprias.