No Brasil, escolas públicas têm computador, mas não em sala de aula
Guia das Cidades Digitais - 11/08/2011 - [ gif ]
Assunto: Indicadores CETIC.br
Pesquisa do CGI aponta presença de máquinas em todos os colégios urbanos, mas são poucos os que as disponibilizam em número suficiente para uso dos alunos
Todas as escolas públicas brasileiras localizadas em áreas urbanas possuem computadores e 87% delas têm acesso à internet em banda larga. No entanto, apenas uma minoria (4%) disponibiliza as máquinas para uso em sala de aula, onde os professores sentem-se com menos conhecimentos que os alunos no que se refere ao uso de novas tecnologias. Estes são alguns dos resultados de recente pesquisa feita pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) sobre a presença de Tecnologias da Informação e da Comunicação (TICs) em instituições de ensino médio e fundamental no Brasil.
O estudo mostra que, se quiserem utilizar computadores, os alunos precisam ir a laboratórios de informática, presentes em 81% das escolas. Das escolas com espaços dedicados ao uso de computadores, 90% estão conectados em banda larga.
A necessidade de computadores nas escolas é grande, pois somente pouco mais da metade das crianças e jovens (54%) tem computador em casa – no Nordeste, o percentual cai para 29%. A quantidade de alunos com internet em casa é um pouco menor – 44% conseguem navegar no próprio lar.
Apesar da falta de acesso doméstico do aluno, a grande maioria (90%) das escolas abre suas portas somente nos dias de semana, o que impossibilita o acesso aos sábados e domingos.
Apesar de disponíveis para a maioria dos alunos, os computadores, mesmo nos laboratórios, são insuficientes. Em média, há 23 máquinas por unidade de ensino, contando os utilizados por coordenadores, diretores, professores e abertos aos alunos. Desse total, em média cinco não funcionam, apesar de boa parte das instituições ter algum profissional encarregado da manutenção dos computadores.
Segundo coordenadores pedagógicos e diretores, a quantidade insuficiente de máquinas é o principal limitador do uso das tecnologias no processo de ensino e aprendizado.
Quase metade (47%) dos computadores foram adquiridos pelo Proinfo, do governo federal. Os demais provêm dos programas Banda Larga nas Escolas (12%), Gesac (3%) e de iniciativas estaduais, não governamentais e outros. No entanto, 40% das escolas não participa de nenhum programa e obtêm computadores por outros meios.
Uso
A pesquisa também avaliou o uso feito dos computadores e da internet nas escolas. Quando utilizadas em atividades pedagógicas, o laboratório é, na maioria das vezes, o lugar preferido para essas atividades. Em apenas 18% das escolas as máquinas são utilizadas em sala de aula. Somente 25% dos professores costuma usar os recursos tecnológicos em aulas expositivas ou para demonstrar experiências em ciências.
"Os resultados apontam a necessidade de ampliar esse modelo, por meio do incentivo da utilização pedagógica da tecnologia, já que o cotidiano do ensino-aprendizagem atualmente se desenvolve principalmente dentro da sala de aula e não no laboratório de informática", afirmou Alexandre Barbosa, gerente do Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação (Cetic.br)
Segundo as respostas dadas por diretores, 28% dos colégios não oferecem nenhum conteúdo próprio a professores, pais ou alunos. Apesar disso, a grande maioria, quase 90%, enxerga como alta prioridade melhorar a competência de alunos e professores em relação ao uso de TICs.
Barreiras
Segundo a pesquisa, há obstáculos não materiais a serem superados quanto ao uso da tecnologia nas escolas. Entre os professores, 64% acreditam que os alunos sabem mais de informática e navegação na internet do que eles, o que dificultaria o uso.
Não á toa, 48% dos docentes buscaram algum curso de capacitação para se atualizarem em relação à utilização das TICs, contra 25% dos alunos. Estes preferem aprender sozinhos (38%) ou com a ajuda de conhecidos (40%). Apenas 10% dos discentes dizem ter ganho algum conhecimento de informática por intermédio de professores ou da escola – afinal, 59% dos mestres dizem não realizar atividades relacionadas ao ensino de computadores e internet em sala de aula. Três em cada quatro professores também buscam solucionar dúvidas por meio de colegas e 64% procuram informação em revistas especializadas.
“Na perspectiva do docente, ele depende principalmente de sua motivação pessoal e da ajuda dos colegas para desenvolver habilidades no uso de computador e da Internet”, comenta Barbosa.
A pesquisa entrevistou 1.541 professores, 4.987 alunos, 497 diretores e 428 coordenadores pedagógicos em 497 escolas brasileiras em 2010.