Microcamp é acusada de usar ONG em golpe. Empresa rebate
Monitor Mercantil - 14/04/2010 - [ gif ]
Assunto: Golpe
O presidente da ONG Educa São Paulo, Devanir Amâncio, deve protocolar hoje na Câmara Municipal de São Paulo um pedido de abertura de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a venda de cursos da rede Microcamp. Funcionários da escola estariam usando o nome da ONG para oferecer falsas bolsas em cursos de computação e de idiomas da rede. As “bolsas”, no entanto, são parciais - o interessado tem de desembolsar R$ 300, em média.
Procurada pelo Estado, a empresa informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que não autorizou nenhuma de suas unidades a usar o nome de Educa São Paulo e não tinha conhecimento do problema. A Microcamp também prometeu apurar a denúncia. Na internet, um site comercial com o nome Educa São Paulo fornece o endereço de uma unidade da Microcamp em Campinas.
Amâncio tomou conhecimento do uso do nome de sua ONG no fim do ano passado, quando a advogada Patrícia Araújo o procurou.
- Outras pessoas já haviam me ligado, falando sobre cursos, mas eu não entendia o que estava acontecendo - conta.
O trabalho principal da Educa São Paulo, fundada em 1988, é a criação de bibliotecas comunitárias para populações carentes.
- É um desrespeito com a nossa entidade e também com a população. A empresa tenta esconder sua identidade - diz Amâncio, que pretende encaminhar denúncia para o Ministério Público Federal.
Patrícia emprega em sua casa Susana Silveira Veiga, que quase caiu em um golpe.
- Deixaram recado no telefone da minha irmã, que é o número que está na escola da minha filha, caso tenham de me encontrar. Quando retornei, disseram que eram da Educa São Paulo e que minha filha foi bem em uma prova e por isso tinha conseguido um bolsa de estudos. O endereço indicado para fazer a matrícula era o de uma unidade da Microcamp. É um absurdo, porque conhecia de nome a Educa São Paulo e sei que é uma ONG muito séria - diz Susana.
Segundo ela, o que a fez desconfiar foi a insistência da atendente.
Para Amâncio, porém, usar o nome de Educa São Paulo é só “a ponta de um iceberg”.
- Eles usam esse nome, assim como os de programas do governo, para confundir as pessoas - diz.
Reconhecimento - Na estratégia de vendas, a Microcamp diz que possuiu cursos técnicos “reconhecidos e aprovados” pelo Ministério da Educação. Mas o MEC informou que não é de sua competência dar aval a cursos técnicos e não sabia da propaganda da escola.
Em nota, a pasta esclareceu que as secretarias estaduais e municipais de Educação são as “responsáveis pela autorização, regulamentação e reconhecimento” das instituições de ensino técnico.
- O MEC reconhece por meio das secretarias - disse Marcos Alexandre Lopes, gerente da Microcamp.
Em fevereiro, o Instituto de Defesa do Consumidor denunciou que, no contrato de cursos da Microcamp, 80% do valor era referente à compra do material didático. Dessa forma, se um aluno decide deixar o curso no meio, tem de continuar pagando as parcelas quase integrais até o fim para quitar o material. A empresa diz que seus contratos estão dentro da lei. Em um ano, o Procon de São Paulo recebeu mais de 500 queixas contra a rede.
Presidente da empresa nega denúncia
O presidente da Microcamp, Eloy Tuffi, afirmou ontem ter apurado que nenhuma unidade da rede ligou para estudantes dizendo ser da ONG Educa São Paulo. Tuffi informou ter recebido uma denúncia semelhante, mas, nesse caso, o endereço informado era de uma outra escola, não da Microcamp. Segundo ele, a vítima fez confusão entre os nomes das empresas.
O presidente da Microcamp também esclareceu que o site www.educasaopaulo.com.br foi feito por um professor da Microcamp em Campinas, mas não tem relação oficial com a rede de escolas.
Uma pesquisa no site Registro.br (responsável por domínios de registro de sites em todo o país) indique o Educa São Paulo foi registrado em 23 de julho de 2009 em nome de Aurimar Santos Costa.
- O professor fez um projeto e oferece cursos gratuitos por conta dele. Por isso não tem autorização para usar o nome da empresa - afirmou. O site fornecia o endereço de uma das unidades da Microcamp.