NIC.br

Ir para o conteúdo
02 JUL 2021

Listas telefônicas foram deixadas de lado por campo-grandenses, mas saudade ficou


A Crítica - 1/7/2021 - [gif]


Autor: Victória de Oliveira
Assunto: TIC Domicílios

Os celulares tomaram o espaço das listas telefônicas, mas pessoas ainda lembram com carinho do artefato

Com a facilidade dos meios tecnológicos, muitos artefatos usados antigamente foram substituídos por funções da tecnologia. Um objeto, que agora é praticamente uma relíquia, deixado de lado pelos brasileiros é a lista telefônica, mas há quem se lembre do famoso caderno de páginas brancas e amarelas.

Imagine a situação: anos 90, você precisa fazer uma ligação para a casa de um amigo, mas não lembra o número de cabeça. Então, dirige-se até o rack da sala, levanta o telefone (fixo, claro!) e alcança sua lista telefônica, onde procura naquela imensidão de ordem alfabética quais dígitos discar para casa dele.

Se você nasceu na geração conectada, talvez fique um pouco confuso do que estamos falando, mas sim, há 15 anos ainda era muito comum consultar telefones comerciais e residenciais numa lista de papel com páginas amarelas, destinadas aos anúncios publicitários, produtos e contatos dos comércios da cidade, e brancas, com os nomes de todos os donos de linha telefônica da cidade, separados por rua, com os respectivos CEPs de cada uma, e, de quebra, com a coordenada de onde ela está no mapa.

Em Mato Grosso do Sul, a distribuição gratuita e obrigatória da lista física era feita pela TeleLista, empresa do Rio de Janeiro. Até 2014, alguns exemplares ainda circulavam com menor frequência, especialmente por causa da obrigatoriedade da distribuição.

Contatada, a empresa afirmou que não trabalha mais com listas impressas desde 2004. Apesar do tempo, o artefato ainda é lembrado por Antônio Carlos do Amaral, 67, escrivão aposentado. Ele conta que tem uma lembrança muito vívida da lista telefônica.

“Todo ano as empresas mandavam um exemplar e ela vinha com várias coisas. Tinha os nomes em ordem alfabética com os telefones, uma página com a listagem dos telefones essenciais, como polícia e bombeiros, por exemplo, além de propagandas. Lembro que vinha, também, um caderno à parte, com os endereços. Encontrava até mapas da cidade, de todos os bairros. Basicamente a lista telefônica era isso, constava com informações da cidade, de pontos turísticos”, recorda ao Light.

Ele conta que a maior utilidade do caderno, para ele, era na busca de endereços. “Eu olhava o mapa, onde ficavam as ruas, os bairros, informações desse tipo. Usava também para ver se a pessoa que eu queria encontrar tinha telefone”, lembra. Essa memória também é compartilhada com o filho, Lucas de Lima, 23. O acompanhante terapêutico recorda das viagens em família feitas com o auxílio dos mapas nos cadernos telefônicos.

“Quando eu e minha família íamos viajar, usávamos os mapas das listas como uma forma de GPS: qual a melhor rota a ser seguida, qual estrada pegar. Eu lembro de ir muito para Porto Velho (RO) na época, então fazíamos o traçado de qual BR pegar, quantas horas a viagem ia durar mais ou menos. Outra situação era ir para casa de alguém pela primeira vez aqui na cidade, era sempre uma olhada no mapa para conhecer o bairro, as ruas de referência”, relembra. Hoje em dia, os GPSs assumiram o papel dos mapas.

O aposentado diz que quando ganhou seu primeiro celular, um Motorola “tijolão” - como é apelidado hoje em dia -, a lista telefônica ainda era útil. Ele explica, ainda, que a transição da lista impressa para a digital foi algo natural em sua vida. "Os números de celular nunca entraram na lista, mas ainda precisávamos saber os fixos. Isso foi acontecendo normalmente, então, conforme mais pessoas adquiriam os celulares, os telefones fixos foram deixados de lado. Hoje em dia é raro as pessoas terem telefone fixo”, afirma.

E Antônio está certo, o número de pessoas no país que ainda utilizam telefone fixo está diminuindo, enquanto as que utilizam celular, aumentando. Segundo dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), em 2020, o mês de maio fechou com 31,7 milhões de linhas fixas no Brasil ante 35,8 milhões no mesmo período de 2019, o que indica uma queda de 11%. Os dados mais recentes de usos de aparelhos móveis são de 2019, do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), por meio da pesquisa TIC Domicílios.

Ainda assim, engana-se quem acha que o sistema de listas telefônicas está extinto: ele só migrou para as plataformas on-line. O site da TeleLista conta com a possibilidade de ter seu produto ou comércio anunciado - muito parecido com as páginas amarelas - além de ter telefones e endereço de estabelecimentos disponibilizados para o público.

A plataforma foi criada em 1998 e até 2000 era destinada somente ao Rio de Janeiro, porém, hoje em dia, outras capitais, inclusive Campo Grande, têm telefones de vários comércios acessíveis nas “páginas on-line” do portal. O Jornal A Crítica, por exemplo, está no catálogo virtual da empresa.

O que poucos sabem é que ainda é possível obter um serviço parecido aos das listas telefônicas, mas falado. Desde 2001 a Anatel disponibiliza o ramal 102 para os interessados em saber telefone e endereço das pessoas. Hoje o canal está sob controle da operadora de celular Oi, mas as consultas só funcionam pelo site, em razão da pandemia do novo coronavírus.

Um sentimento inegável para o ex-escrivão é a nostalgia que sente ao falar das listas telefônicas. “É uma saudade daquela época em que as pessoas não ficavam presas à tecnologia. Foram bons tempos, uma época saudável”, finaliza. Se você é do time que viveu essa época, deu para sentir a saudade aí?

No fundo do baú - O portal A Crítica recebeu, nesta semana, uma super requília: uma lista telefônica de Campo Grande do ano de 1957. Diferente da versão clássica, possuia a divisão entre páginas amarelas e brancas e era distribuída pela Companhia Telefônica de Campo Grande.