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26 MAI 2009

Lan House quer parte das verbas dos telecentros






Yahoo! Notícias - 26/05/2009 - [ gif ]
Assunto: Indicadores

As lan houses querem usar sua rede de cerca de 100 mil pontos espalhados por todo o País para atuar como parceiras do governo nos projetos de inclusão digital. Elas cobiçam uma fatia dos R$ 162 milhões em verbas federais, que serão destinadas neste ano a um programa de apoio aos espaços públicos com acesso gratuito à internet, chamados de telecentros.

Ao definir as regras para as parceiras deste programa, o governo excluiu as lan houses, responsáveis hoje por quase metade dos acessos à internet no Brasil. As lan houses defendem um modelo híbrido para os telecentros, com a convivência em um mesmo espaço de serviços gratuitos e pagos.

Mas o governo é contra a proposta de dar um caráter comercial aos telecentros e prepara um projeto específico para tirar da informalidade essas pequenas lojas de acesso pago à internet.

Os recursos para o programa de apoio aos telecentros virão dos ministérios das Comunicações, Planejamento e Ciência e Tecnologia. A meta é criar 3 mil novos telecentros e aparelhar outros centros que ainda não têm internet ou computadores. Hoje, existem no Brasil 5 mil telecentros conectados à internet e outros 7 mil sem conexão.

CARO E INEFICAZ
O governo fará uma chamada pública no segundo semestre para selecionar os parceiros do programa, que podem ser prefeituras, governos estaduais ou representantes da sociedade civil, como associações de bairros. O critério básico é que seja uma entidade sem fins lucrativos e que tenha um espaço com mobiliário e luz elétrica para abrigar o telecentro.

Pelo programa, os ministérios entram com os computadores, conexão à internet, formação de pessoal e bolsa de R$ 400 por mês para um monitor, que vai auxiliar os usuários no acesso à internet.

Para o presidente da Associação Brasileira de Centros de Inclusão Digital (Abcid), Mário Brandão, o programa do governo é caro e insustentável. Na sua opinião, seria mais eficaz aproveitar a capilaridade existente das lan houses, em vez de criar uma nova estrutura. Segundo dados de 2008 do Comitê Gestor de Internet (CGI), 48% dos acessos à internet são feitos em lan houses, contra 4% nos telecentros.

"A lan house poderia ter um papel de inclusão digital muito mais amplo e muito mais forte se contasse com o apoio do poder público. Já cumprem um papel quantitativo, mas não qualitativo", afirmou Brandão, lembrando que as lan houses atendem a 30 milhões de pessoas.

Na opinião do presidente da Abcid, o governo não está preocupado se o telecentro terá um aproveitamento adequado. "Não existe mensuração objetiva do retorno do investimento que o governo está fazendo", afirmou. "Se você oferece um computador de graça para uma lan house e exige 1 mil atendimentos, por exemplo, você tem o mesmo resultado. Não precisa de telecentro", afirmou. Para defender o modelo híbrido, Brandão cita o ProUni, programa do governo que dá bolsa para aluno carente estudar em universidade privada. "O governo subsidiou o acesso à escola privada de quem não tem condição de pagar. Funciona maravilhosamente bem."

Ele critica ainda a falta de sustentabilidade do programa, comparando o custo médio de uma hora de acesso no telecentro, que segundo ele é de R$ 7,80, com a da lan house, de R$ 1,50. "O governo está trabalhando com uma proposta assistencialista e não como indutor do desenvolvimento."

Entretanto, na visão do secretário de Logística e Tecnologia da Informação do Ministério do Planejamento, Rogério Santana, telecentros e lan houses têm públicos distintos. "No mundo, tem lugar para biblioteca e lugar para livraria. As lan houses estão mais para livraria e os telecentros mais para biblioteca." Ele rebate as críticas da Abcid. "Não se pode olhar uma política só por uma parte: a dos telecentros", disse o secretário, lembrando que o governo tem outras iniciativas como o programa de incentivos fiscais para computadores de baixo preço para a classe média e o projeto de banda larga gratuita nas escolas públicas urbanas. "O telecentro é também uma forma de distribuição de renda."

O assessor especial da Presidência República e coordenador dos programas de inclusão digital, César Alvarez, é contra o modelo híbrido por acreditar que muitas empresas que usam equipamento e conexão do governo, com monitores pagos pelo governo, iriam lucrar com os acessos. "Deixa de ser um espaço com equipamento público gratuito para virar uma fonte de renda para uma prefeitura, um governo estadual ou uma entidade."