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06 JAN 1999

Greve ameaça parar a Internet. Será?






Arquivo do Clipping 1999

Veículo: Jornal do Commercio
Data: 06/01/1999
Assunto: Greve na Internet

Hercília Galindo

A próxima quarta-feira é dia de greve na Internet. O anúncio, que mais parece com um spam, está chegando nas caixas-postais de quase todos os usuários de e-mail do país e criando polêmica entre os internautas. O protesto de origem desconhecida refere-se aos valores cobrados pelos provedores nacionais de acesso à Internet, que chegam a
ultrapassar R$ 25,00 por tempo limitado. As discussões esquentam diante da possibilidade da paralização. Em um ponto a maioria concorda: a idéia não deve pegar.

Os internautas são os primeiros a apostar que a Rede não vai estar menos congestionada no próximo dia 13. "Não vou aderir", afirma o universitário Rafael Muniz. Segundo ele, que assume não viver sem checar a caixa postal ou realizar pesquisas para trabalhos da universidade, a idéia poderia até ter mais "peso" se fosse melhor elaborada. "Já existe alguma negociação real para baixar o preço dos serviços prestados pelos provedores de acesso nacionais? Acho que não.
Então, de que me adianta participar de um protesto desarticulado?", questiona.

"Não estou sabendo de nada!", diz a administradora de empresas Maria Tereza Cruz. Ela afirma não ter recebido a famosa mensagem de "convocação para o protesto". "Nenhum dos internautas que conheço está a par do assunto. Pelo menos não me disseram nada. Mesmo se soubesse, não participaria", afirma. Segundo Tereza Cruz, não vale a pena aderir a um movimento onde todos saem perdendo: usuários, que deixam de ter acesso ao conteúdo da rede, e provedores, que perdem com a ausência de seus clientes.

Contrariando a maioria, Roberto Mendes, analista de sistemas, diz ser a favor da greve e que vai participar do movimento em busca de menores taxas de acesso. "Se todos chegarem a um consenso e se unirem em busca de um objetivo de interesse geral, resultados positivos virão mais cedo ou mais tarde", aposta. Afinal, "um dia sem navegar não deve trazer prejuízos tão devastadores assim".

"Não sou contra um eventual movimento grevista, apoiá-lo-ei, se houver um. Só acho que é necessário cautela antes de se organizar qualquer greve. Começar pela greve, ao contrário de outros lugares, pode ser desmoralizante", pondera Silvio Meira, professor do Departamento de Informática da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e
presidente da Sociedade Brasileira de Computação.

Para ele, um movimento onde não há nenhuma negociação com a Anatel; nenhuma ação no âmbito do comitê gestor; da Abranet, que representa os provedores; nem uma ação concreta nas teles para baixar o preço da infraestrutura que os provedores usam, está fadado ao esquecimento.

Provedores - Representantes dos provedores de acesso afirmam que o movimento é infundado e que não deveria gerar tanta polêmica. Segundo Aisa Pereira, diretora do provedor de acesso Cyberland, os serviços prestados no Brasil, que giram em torno de R$ 25,00 não estão tão distantes dos oferecidos no exterior, algo em torno de U$ 20,00. "Além
disso, não obtemos lucros exorbitantes. Quase tudo é investido na empresa, já que a indústria de hardwares e softwares não pára de evoluir. Quem não se atualiza se torna defasado em apenas três meses", explica.

Aisa defende a diminuição dos preços dos backbones pela MCI Communications Corporation - controladora da Embratel desde leilão em julho do ano passado. Se não, para que veio a privatização? Uma linha de 2 Mb nos estados Unidos custa cerca de U$ 3 mil. No Brasil, a mesma linha chega a R$ 30 mil.

"Não acredito que esse movimento pegue, os assinantes da Cyberland estão a par da história e ainda não de manifestaram. Mas, se algo contribuir para que aconteça, pelo menos poderemos acessar a sempre tão congestionada Internet com tranqüilidade e fazer downloads rápidamente", brinca.

Movimentos - A Internet está deixando de ser local de "inocentes passeios virtuais". A popularização da Rede está transformando-a também em local de protesto, com movimentos organizados. No primeiro semestre de 98, os
professores das universidades federais manifestaram seu protesto contra a defasagem salarial também na Rede.

Em setembro de 98, os internautas espanhóis iniciaram um "surf out" (greve de usuários). A idéia do protesto ocorreu em função do plano da Telefônica da Espanha de aumentar a tarifa das chamadas locais em 126%. O mais conhecido
movimento brasileiro, sem autor divulgado, está sendo aguardado para a próxima quarta-feira, 13 (que não cai em uma sexta-feira). Mesmo que a idéia não vingue, uma coisa é certa: já deu muito o que falar.