A pandemia acelerou um processo de conectividade nas escolas que começou em 1997. Foi o Programa Nacional de Informática na Educação (ProInfo), que pretendia incentivar o uso pedagógico de tecnologias na educação.
Edmea Santos, da UFRRJ, conta que a ideia era fazer laboratórios de informática nas escolas. Depois, outros programas se seguiram, dando formação a professores tutores que incentivariam o uso das tecnologias nas escolas entre colegas; outros tentaram comprar computadores a baixo custo para alunos, ou ainda levar internet às escolas. Os programas foram encerrados.
"O que não fizemos de lição de casa se mostrou agora. Em um momento de restrição de contato físico que só nos deu a opção de trabalhar virtualmente com a educação", afirma Jane Reolo, coordenadora de Soluções com Tecnologia do Instituto Unibanco.
Atualmente o MEC tem o programa Educação Conectada, que foi criado em 2017. Em abril, um relatório da Câmara dos Deputados apontou que o MEC reduziu em 45,1% os recursos destinados ao programa durante a pandemia, um corte de R$ 82 milhões. Em 14 de maio, a pasta anunciou que distribuiu 154 mil chips no programa Alunos Conectados.
Em meio à lacuna de informações, e para acelerar a conectividade das escolas, o Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br) e o Centro de Inovação para a Educação Brasileira (CIEB) lançaram em março um mapa que mostra a conectividade das escolas, por rede municipal e estadual, porque não havia esta informação centralizada.
"Reunimos um grupo de provedores para tentar resolver a conectividade. A Anatel tinha parte da informação, o MEC tinha a declaração de escolas, as próprias escolas tinham outros dados. Vimos que seria interessante criar um mapa integrado", conta Lúcia Dellagnelo, diretora-presidente do CIEB.
Para Dellagnelo, a derrubada do veto é positiva. "Isso passa uma mensagem de que a tecnologia será parte do processo da educação daqui para frente, e que precisaremos de políticas públicas que consigam reduzir essa desigualdade de acesso entre os estudantes brasileiros", afirma .
Alfabetização digital
A falta de internet na educação levou a uma geração de alunos que têm acesso à informação, mesmo que precariamente em um celular, mas não foi instruído para navegar no ambiente virtual.
Dados da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) apontam que 67% dos estudantes de 15 anos do Brasil não conseguem diferenciar fatos de opiniões quando fazem leitura de textos. O documento cita que o fluxo de informações da era digital exige tal habilidade dos leitores.
"Estar on-line não é critério de qualidade", aponta Reolo. "A escola ajuda a decodificar o que são letras e números. Com a tecnologia, também deveria ser nesta perspectiva", defende.
"O acesso à internet é considerado um direito básico, mas se a escola não souber usar para fins educacionais, aumentando o grau de tecnologia em ações pedagógicas, ela estará lá sem atingir seu fim", defende Dellagnelo.
Atualmente, as escolas do Acre, Amazonas, Maranhão, Roraima, Pará e Amapá têm os menores índices de conectividade do país. Em média, até 60% das escolas nestes estados têm internet, mas no AC e no AM, por exemplo, o índice cai para 40%, segundo dados do Censo Escolar 2020.
Na análise por ciclo, as escolas do ensino médio têm maior conectividade (96,9%) do que as de ensino fundamental (76,10%).