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31 MAI 2010

Doutor Google






A Notícia - 31/05/2010 - [ gif ]
Assunto: Internet

A internet é uma espécie de consultório médico sempre aberto, mas erros de informação são comuns e perigosos

Ao digitar a palavra hipertensão no Google, o mais popular programa de buscas na internet, aparecem 1,2 milhão de páginas em que o nome da doença é citado. Também há anúncios relacionados ao assunto – um deles prometendo a cura da impotência sexual. Na lista de resultados, há páginas do Ministério da Saúde, de hospitais e da sociedade médica especializada em hipertensão.

Mas em meio às informações de fontes seguras, a pessoa que faz a busca corre o risco de ler textos elaborados por leigos, sem qualquer fundamentação teórica. Como, por exemplo, o conselho de se misturar remédio a uma fórmula feita com alho e azeite de oliva.

A rede mundial de computadores tornou-se uma interminável e bem acessada enciclopédia de termos médicos. No Brasil, de acordo com uma pesquisa do Comitê Gestor da Internet, 39% dos usuários usam a web para procurar informações relacionadas à saúde, sendo que o percentual sobe para 60% quando se consideram apenas os quem têm nível superior. Embora reconheçam a utilidade da internet na democratização da medicina, especialistas também se preocupam com a qualidade e o uso que se faz das informações.

“Não há a menor dúvida de que a internet contribui para a informação. O médico que não souber o que está acontecendo na área pode passar por um grande constrangimento, porque o paciente vai chegar ao consultório atualizado”, acredita Reginaldo Albuquerque, clínico-geral e endocrinologista do Exame Medicina Diagnóstico/Dasa e editor do site www.diabetes.org.br, da Sociedade Brasileira de Diabetes. “Mas nada pode substituir a relação entre médico e paciente. Algumas pessoas, por exemplo, querem checar a opinião de seu médico com a do site. Isso é perigoso. Há muita informação na internet que se pode jogar no lixo”, alerta.

A funcionária pública Zenaide Gonçalves da Silva Ramos, 44 anos, chega a dizer: “Confio mais no dr. Google do que nos médicos. Se, por exemplo, o dermatologista me passar uma receita, eu entro na internet para pegar informações, para ter certeza de que posso usar mesmo”, conta.

Apesar da confiança depositada na internet, ela diz que procura filtrar apenas as boas informações. “Na minha família, já teve caso da pessoa ter um sintoma e o Google a levar a pensar que estava com uma doença seríssima. A pessoa tem que filtrar, senão fica em pânico mesmo”, diz.

O presidente da Associação Paulista de Medicina e diretor da Associação Médica Brasileira, Jorge Carlos Machado Curi, alerta que é comum o paciente tirar conclusões precipitadas. “A pessoa conclui apressadamente que tem uma determinada doença. Começa a ver tanta coisa que fica psicótica e neurótica, avidamente procurando informações e achando que tem tudo. Hoje, com tantas informações, até os médicos têm dificuldades de separar o joio do trigo. Imagine para o leigo”, afirma.

A administradora Vanessa Holanda Timoteo da Silva, 26 anos, é adepta das consultas online. Curiosa, Vanessa gosta de tentar decifrar os resultados de exames na web. “Adianta bastante, nunca levei nenhum susto com os resultados. Confio 90% do Google”, diz.

O clínico-geral Reginaldo Albuquerque, porém, adverte que é muito perigoso o leigo tentar interpretar exames. “O exame, por si, não faz diagnóstico de nada. É um número que pode ter significados diferentes dependendo do paciente, dos sintomas e do exame realizado pelo médico”, explica.

A crescente busca por informações sobre saúde na internet desperta o interesse de pesquisadores, que têm investigado a qualidade dos sites de conteúdo médico. O Google, em particular, chamou a atenção do professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Florença, Marco Masoni. Ele é o principal autor de um estudo que mostrou os perigos de confiar inteiramente nas informações divulgadas na web.

“Estamos vivenciando uma revolução na área da saúde”, diz, no artigo, a coautora do estudo, Joanne Shaw. “A internet levou o cânone do conhecimento médico às mãos e às casas de pessoas comuns; isso é bom tanto para o paciente quanto para os médicos”, admite. Porém, ela adverte que as pessoas não devem se deixar levar por qualquer informação. “Muitas delas são de origem e qualidade dúbias, e os pacientes podem não ter o senso suficiente para diferenciar o que é bom do que é ruim”, alerta.