Dia Mundial da Internet: O protagonismo de São Paulo no acesso e uso da Internet no país
Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado de São Paulo - 17/5/2024 - [gif]
Assunto: Dia Mundial da Internet
Em entrevista, Demi Getschko conta a sua experiência da implantação da internet no estado, assim como os avanços tecnológicos ao longo dos anos
O Dia Mundial da Internet, celebrado anualmente em 17 de maio, reforça a importância da conectividade humana por meio da tecnologia. A internet revolucionou a forma como nos comunicamos, acessamos informações, trabalhamos, estudamos e nos entretemos. Além disso, é possível observar como ela aproximou as pessoas, permitindo que indivíduos de diferentes partes do mundo se conectem, compartilhem ideias e experiências. Ela também facilitou o acesso ao conhecimento, ampliando as oportunidades de aprendizado e desenvolvimento pessoal. De acordo com o Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto Br, em fevereiro de 2024, o Estado de São Paulo registrou um novo recorde de tráfego, foram 23 terabits por segundo. O último pico registrado foi em julho de 2023, também por São Paulo, que registrou 22 terabits por segundo.
Além disso, a internet se tornou uma ferramenta essencial para o exercício da cidadania, permitindo que as pessoas tenham voz e participem ativamente de debates e discussões sobre temas relevantes. Ela também impulsionou o empreendedorismo e abriu novos caminhos para o comércio e a economia digital – não só no Brasil, como no mundo todo. Pensando nisso, a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado de São Paulo conversou com Demi Getschko, primeiro brasileiro a ter o nome incluído no hall da fama da internet e responsável pelo Centro de Processamento de Dados da FAPESP, durante a fase de instalação da rede no Brasil. De acordo com a Instituição, ele foi reconhecido pela Internet Society (ISoc), organização não governamental formada por representantes de todo o mundo com o objetivo de promover a evolução da internet.
1. Como você avalia a influência do Estado de São Paulo no desenvolvimento e inovação da internet no Brasil?
O Estado de São Paulo foi pioneiro, assim como o Rio de Janeiro, a conexão foi realizada entre a Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e Fermilab, laboratório especializado em física de partículas de alta energia do Departamento de Energia dos Estados Unidos localizado em Batavia, no estado de Illinois. O acesso foi realizado nas redes Hepnet (High Energy Physics Network) e Bitnet. O presidente da Fapesp à época, professor Oscar Sala, tinha um bom relacionamento com o Fermi e isso ajudou na conexão. O domínio .br foi delegado ao time da Fapesp em 18 de abril de 1989 e, em pouco tempo, foi o “sobrenome” adotado pelos brasileiros. O Fermi passou a fazer parte da ESNet – Energy Sciences Network já em 1988 e, com isso, abriu-se a possibilidade de incorporar Internet (TCP/IP) às redes que a linha da Fapesp acessava. Em 7 de fevereiro de 1991 o acesso à Internet foi definitivamente disponibilizado aos brasileiros e, em particular, alimentou a ECO-92 no Rio de Janeiro via linha da Fapesp.
2. De que maneira as políticas públicas de São Paulo têm contribuído para o avanço da internet e da tecnologia no estado?
Desde o início da rede ANSP (An Academic Network at São Paulo) o Governo do Estado de São Paulo participou do projeto. O Governador inaugurou oficialmente a ANSP em 1989 e houve uma rápida disseminação pelo estado, seja via cabos de telecomunicação ou via rádio. A Fapesp arcou com os custos da conexão internacional por longo tempo, até que a Rede Nacional de Ensino e Pesquisa começasse a poder suportar linhas internacionais. Certamente dispor de uma instituição como a Fapesp é um privilégio.
3. Quais foram os maiores desafios que você enfrentou na implementação da internet em São Paulo e como eles foram superados?
Os maiores desafios para implantar a rede em São Paulo estavam na obtenção de canais de comunicação intraestaduais e na compra de equipamentos de roteamento necessários. Na falta de “routers” em muitos casos foram usadas estações de trabalho munidas de “software” que emulasse os processos de roteamento. Quanto à adoção da rede, havia muito interesse por ela e seu espalhamento espontâneo pelas diversas áreas foi muito rápido. Também em São Paulo as primeiras BBS (Bulletin Board Systems) como a CanalVip e a Mandic procuraram a Fapesp para conseguir conexão à Internet. O espírito original colaborativo de Internet foi amplamente implantado pela Fapesp e ANSP, permitindo conexões de fora da comunidade acadêmica estrita. Como na Internet original, o valor da rede é tanto maior quanto mais diversa e ampla for sua população
4. Você poderia comentar sobre alguma inovação específica na área de internet que tenha se originado em São Paulo e que tenha tido um impacto significativo no resto do país?
O primeiro PTT (ponto de troca de tráfego) Internet no Brasil foi implantado na Fapesp, sendo o único até 1998. A iniciativa de PTTs (IX – Internet Exchanges) foi tão bem sucedida no Brasil que há 4 anos o PTT (IX) de São Paulo ainda é o de maior tráfego no mundo. (no começo da pandemia ultrapassou o antigo líder, que era o IX de Frankfurt). O Ix de São Paulo é cerca de 15 vezes maior em trânsito quando comparado ao que está em segundo lugar – o de Fortaleza, que acaba de ultrapassar o Rio de Janeiro.
5. Como você vê o futuro da internet e da inovação tecnológica em São Paulo? Quais são as próximas etapas para continuar mantendo o estado na vanguarda do setor?
O futuro da Internet seguirá cada vez mais sendo representado pelos serviços que são montados sobre ela. O Governo eletrônico, serviços ao cidadão etc incorporam-se ao dia a dia dos indivíduos, tornando a parte visível da rede. A Internet em si, como estrutura, se continuar tendo o sucesso que tem tido, deve se tornar menos visível e praticamente transparente. Como Mark Wieser disse, “as tecnologias mas bem sucedidas se entrelaçam no tecido do dia a dia e passam a ser indistinguíveis dele”. Resta prestar atenção a que não basta termos os cidadãos conectados, mas precisamos de conectividade significativa, que permita rodar os aplicativos de interesse, e de equipamentos adequados ao uso que fazemos da rede. Isso tudo somado ao letramento digital que deve ser disponibilizados a todos. Avante!