Crianças e idosos na internet exigem cuidados especiais, dizem especialistas
O Globo - 14/11/2018 - [gif]
Assunto: TIC Kids Online Brasil 2017
Crianças e idosos precisam de atenção extra no quesito segurança na internet. Enquanto as gerações atuais já cresceram com a internet em suas vidas e, hoje, a carregam consigo nos smartphones desde cedo, os internautas idosos ainda não estão completamente familiarizados com os golpes on-line e necessitam de acompanhamento e orientação. Já segundo a mais recente pesquisa TIC Kids do Cetic.br (Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação), oito em cada dez crianças e adolescentes brasileiros (24,7 milhões) entre 9 e 17 anos acessam a internet, 44% (11 milhões) pelo smartphone. No mundo on-line, 39% já tiveram acesso a conteúdos sensíveis (discriminatórios, por exemplo).
Para crianças, diálogo e antivírus
As gerações atuais já cresceram com a internet inserida em suas vidas e, hoje, a carregam consigo nos smartphones. No entanto, com o avanço das fake news e do cyberbullying, é preciso estar vigilante o tempo todo. O arsenal tecnológico de proteção é grande, com aplicativos para os pais controlarem tudo que os filhos fazem na rede, mas o mais importante está no mundo “off-line”: a educação e a conversa olho no olho com crianças e adolescentes. É importante fazê-los compreender a importância da segurança virtual.
Estudos da Intel já mostraram que crianças e adolescentes tendem a esconder dos pais suas atividades na internet, aprendendo logo a apagar seu histórico de navegação na rede, deletar mensagens ou simplesmente dando preferência ao celular para garantir maior privacidade. Ao mesmo tempo, de acordo com pesquisa do Instituto Ipsos deste ano, o Brasil é o segundo país do mundo com mais casos de bullying on-line.
Segundo Fábio Barbirato, psiquiatra infantil da Santa Casa, os pais precisam, além de dialogar com os filhos, controlar mais firmemente o acesso à internet e ao celular.
— Vejo pais de todas as classes perdendo a mão, deixando crianças de 8, 12 anos com WhatsApp e acesso à internet sem controle — constata. — Eles têm direito, e mais, obrigação de controlar o acesso dos filhos ao ciberespaço. Com os mais novos, precisam vigiar o que fazem, pois podem não só se expor a terceiros com más intenções, como também pôr em risco a segurança da própria família.
O médico explica que falta às crianças a maturidade cerebral — o chamado “freio inibitório”, que só vai se desenvolver bem mais tarde, no fim da adolescência:
— Elas agem e falam impulsivamente, por isso correm um grande risco. Dar limite é uma forma de carinho.
Recursos avançados
O consultor de segurança Alexandre Freire, autor do livro “Como blindar seu PC”, explica que os controles parentais já estão bem avançados no Android e no iPhone. E Freire os utiliza para administrar o tempo que sua filha Ana Beatriz, de 13 anos, passa em seu aparelho.
— Já é possível monitorar remotamente, direto do smartphone do pai ou da mãe, o tempo que a criança gasta com aplicativos e navegação em seu celular — explica Freire. — O sistema Screen Time, do iPhone, é sofisticado e permite bloquear o acesso aos apps do telefone do filho enquanto os pais estiverem dormindo, por exemplo. E o sistema Android tem o Google Family Link.
Recomenda-se aos pais criar regras e horários de uso da rede, inclusive no celular; estar de posse das senhas dos filhos, tanto dos dispositivos quanto das mídias sociais em que navegam; procurar saber mais sobre os aplicativos usados pela criança; e acompanhar sua vida digital, se informando sobre quem são seus contatos no Facebook ou WhatsApp.
Freire lembra que, quando Ana Beatriz era mais nova, tinha acesso a esses dados. Agora, tem uma relação de confiança com ela, monitorando mais o tempo que passa mergulhada nos apps e na web:
— Esse gerenciamento também serve para que ela não deixe de lado a vida real e suas outras atividades.
Antivírus atualizado
Do lado dos recursos tecnológicos, é fundamental usar programas antivírus. O ideal, tanto no PC quando no ambiente móvel, é usar as versões completas, que costumam proteger também contra programas espiões (spywares), roubo de identidade e outros golpes.
Os jovens devem ficar atentos e, ao baixar qualquer coisa, buscar apps de empresas originais e conhecidos na Google Play ou na App Store.
Os softwares de segurança também têm recursos parentais capazes de filtrar mensagens de texto e e-mails, bem como bloquear números de telefone, números de cartão de crédito, conteúdo indesejado e programas inapropriados.
Idosos estão mais expostos a ‘phishing’
Nesta década, mais idosos estão usando a internet e se adaptando rapidamente às redes sociais e ao WhatsApp. No entanto, é comum que fiquem confusos ao lidar com o universo voraz das informações disponíveis na web.
Pessoas com idade mais avançada precisam ser orientadas a não se exporem demais nas redes sociais, identificando sua localização em imagens ou compartilhando conteúdos sem a devida verificação — algo que vale também para o WhatsApp.
— Mesmo que alguém apenas transmita uma fake news, sem criá-la, pode estar sujeito a consequências jurídicas — avalia Carlos Affonso, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade (ITS-Rio) e professor de Direito da Uerj.
O uso de softwares de segurança (antivírus, antispyware etc.) é fundamental, tanto no computador quanto no celular. Mas, especialmente no caso dos idosos, é fundamental orientá-los para que consigam detectar golpes como o “phishing” (e-mails ou sites falsos que roubam identidades e dados do usuário). Vale lembrar que bancos e outras instituições financeiras não pedem confirmação de senhas ou dados pessoais por e-mail ou WhatsApp.
— O perigo do “phishing” é, sem dúvida, maior no caso dos idosos, especialmente o que chega via mensagens de texto (SMS) no celular, que os pega desprevenidos e os faz clicar em links falsos — afirma o consultor de segurança Alexandre Freire. — É necessário lembrá-los de que bancos nunca enviam esse tipo de mensagem aos correntistas.
Monitoramento constante
O especialista sugere que a vida digital dos usuários idosos seja monitorada de perto com os mesmos aplicativos utilizados para os filhos, mas com o objetivo de verificar se eles não estão caindo em algum golpe, já que, por chegarem mais tarde ao mundo conectado, nem sempre estão cientes das ameaças constantes.
Desconfiar de mensagens de origem desconhecida é recomendável. Os criminosos do mundo digital tentam, a todo custo, disfarçar e-mails e mensagens de texto para fazê-los parecer legítimos, por isso a atenção deve ser redobrada. Se receber algo estranho de alguém conhecido, vale telefonar para confirmar se foi mesmo a pessoa que enviou. E cuidado com mensagens com assuntos chamativos como “veja fotos do acidente”, “você ganhou um prêmio”, “sua conta foi invadida”, e assim por diante. Se qualquer mensagem pedir dados pessoais, com certeza é um “phishing”.
E só se devem ser adicionadas pessoas nas redes sociais se realmente conhecê-las.
Se o idoso, para sua conveniência, já é um adepto do internet banking e paga suas contas on-line, aconselha-se a sair da sessão toda vez que terminar de usar o serviço — isto é, não basta fechar o navegador naquele “x” no canto superior direito. Antes, é preciso clicar, na página do banco, em “sair”, “fazer logoff” ou “encerrar”. Assim, o serviço não fica aberto enquanto não está sendo usado.
Como proteger
CRIANÇAS
Riscos - Cyberbullying, acesso a conteúdo adulto, pedofilia, gastos indevidos com cartões de crédito/débito dos pais, violação dos dispositivos
Proteção no computador - Usar sistema e aplicativos originais; pacote de antivírus/antispyware/firewall atualizado; controles parentais com filtros de conteúdo, impedindo o acesso a números de cartões; formulação de senhas fortes, com caracteres alfanuméricos aleatórios e sinais como #@$%
Proteção no celular - Usar antivírus completos wireless; atualização constante de iOS e Android; senha para entrar no sistema; uso firme pelos pais de filtros avançados Screen Time (iPhone) e Google Family Link (Android), que são aplicativos que podem ser baixados para controlar o acesso e o tempo gasto em apps e navegação
Papel dos pais - Pais precisam ter acesso a senhas e redes dos filhos, orientá-los sobre comportamento dentro da rede e como navegar com segurança, evitar “fake news” e, principalmente, estabelecer uma relação de confiança com eles
IDOSOS
Riscos - O principal é o desconhecimento dos hábitos na rede, pois não são nativos digitais. É grande o risco de caírem em golpes, especialmente de “phishing” (e-mails falsos que levam a pessoa a revelar dados pessoais e financeiros), e também serem presas fáceis para “fake news" ou engenharia social (que são SMS ou telefonemas que visam a aplicar golpes)
Papel dos filhos ou parentes - Orientar as pessoas idosas ao usar o computador, esclarecendo-os sobre os golpes mais comuns, como as mensagens falsas que visam a roubar dados pessoais, levando a pessoa a sites criados por “hackers”; usar filtros de conteúdo e, se necessário, de acesso, para evitar invasões dos aparelhos
Proteção no computador - Usar sistema e aplicativos originais; pacote de antivírus/antispyware/firewall e mantê-lo atualizado; adotar senhas fortes com caracteres alfanuméricos aleatórios e sinais variados; senhas diferentes para cada serviço on-line; encerrar cada sessão de aplicativo (clicando em “Sair” ou “Encerrar”), especialmente em ambientes sensíveis como internet banking
Proteção no celular - Usar antivírus completos wireless; atualização constante de iOS e Android; adotar senha para entrar no aparelho; proteção contra perda e roubo com recursos como o Find My iPhone ou o Android Lost, por exemplo.