Como o avanço da IA impactará os empregos no Brasil
Forbes Brasil - 10/7/2025 - [gif]
Autor: Caroline de Tilia
Assunto: IA no mercado de trabalho
Enquanto empresas mundo afora exploram o potencial de ferramentas de inteligência artificial para otimizar operações e aumentar a produtividade, pesquisas apontam para o impacto substancial da tecnologia no mercado de trabalho. No Brasil, 31,3 milhões de empregos serão afetados, destes, 5,5 milhões com risco de automatização completa, de acordo com a consultoria LCA 4Intelligence.
O Relatório do Futuro do Trabalho de 2025, feito pelo Fórum Econômico Mundial, mostra que 41% dos empregadores planejam reduzir suas equipes devido à adoção da IA. Pela primeira vez, os “White Collar Jobs” (Empregos de Colarinho Branco, em tradução livre) estão mais expostos ao desemprego do que posições braçais.
Em entrevista à Axios, Dario Amodei, cofundador e CEO da Anthropic, disse que “as empresas de IA e os governos precisam parar de ‘amenizar’ o que está por vir”. O executivo afirma que a “eliminação em massa de ocupações em tecnologia, finanças, direito, consultoria e outras profissões de colarinho branco, especialmente de nível básico” é uma possibilidade real e próxima.
“Qualquer líder vai perceber que ele pode economizar e vai fazer isso, vivemos em uma economia capitalista. E não acho que podemos comparar este momento com outras revoluções industriais, porque elas levaram décadas para acontecer. Agora, as mudanças se dão em meses”, pontua Andrea Janér, pesquisadora de tendências, fundadora e CEO da Oxygen.
Nos Estados Unidos, os empregos de entrada, como estágios e trainees, são os mais vulneráveis. Em um artigo para o The New York Times, Aneesh Raman, diretor de oportunidades econômicas do LinkedIn, escreveu que a IA está quebrando “os degraus mais baixos da carreira”.
O levantamento da LCA 4Intelligence indica que, no Brasil, os mais jovens também estão suscetíveis em comparação a profissionais mais experientes. Para Janér, isso ocorre devido ao avanço das ferramentas, cada vez mais sofisticadas. “Um estagiário não tem repertório. Ele aprendeu uma pincelada na universidade e está indo para o mercado de trabalho para aprender a atuar na prática. A IA possui mais informações à disposição para entregar resultados melhores.”
No entanto, o “atraso” do Brasil em relação à adoção da inteligência artificial — apenas 13% das empresas no país utilizaram IA em 2024 — pode significar mais tempo para que os profissionais se adaptem às novas tecnologias.
“Não temos evidências para afirmar que haverá uma substituição em massa no Brasil. Pode ser que a IA leve a algum tipo de redução de contratações, principalmente em negócios que operam a partir de um conjunto massivo de dados. Dificilmente a padaria da esquina vai implementar agentes de IA”, comenta Leonardo Melo Lins, coordenador da pesquisa TIC Empresas, do Cetic.br.
O levantamento, realizado com empresas de todos os tamanhos e regiões do país, revelou que o uso de IA no Brasil é maior entre instituições de grande porte (38%) e do setor de tecnologia da informação e comunicação (38%).
“Até o ano passado, a faculdade de engenharia era considerada uma das mais promissoras. Ser um engenheiro era sinônimo de bom salário e emprego garantido. Essa teoria caiu por terra. Nesse último layoff da Microsoft [cerca de 6.000 demissões], as áreas de data science e engineering [ciência de dados e engenharia] foram as mais atingidas”, reforça Andrea.
Impacto de longo prazo
“Enquanto sociedade, temos o costume de minimizar o impacto de longo prazo das novas tecnologias e maximizar os de curto prazo. Mas, para mim, a revolução que estamos presenciando será tão importante quanto a da internet”, afirma Adriano Carezzato, professor da pós-graduação em IA da Fundação Vanzolini e em Novas Tecnologias da FIA Business School.
Para Carezzato, a velocidade das transformações irá excluir cidadãos das decisões econômicas e, também, aliená-los dos acontecimentos globais. “Talvez, impacte países e empresas de formas diferentes. Porém, se não houver uma mudança política, muita gente será afetada. Os paradigmas sociais vão mudar da água para o vinho nos próximos 5 anos.”
Janér relembra o posicionamento de grandes líderes tecnológicos, como Elon Musk, Sam Altman e Bill Gates sobre o assunto. “Não precisa ser um grande estudioso para entender o que está acontecendo, basta prestar atenção no que eles estão dizendo”, referindo-se a afirmações como a do cofundador da Microsoft, que mencionou durante uma entrevista que a IA poderá fazer “a maioria das coisas” que os humanos fazem nos próximos dez anos.
“A sociedade vai precisar se organizar de outra forma”
Altman, CEO e cofundador da OpenAI, empresa responsável pelo desenvolvimento do ChatGPT, foi o principal patrocinador de um estudo da OpenResearch sobre a Renda Básica Universal, uma das hipóteses de pesquisadores e estudiosos para a subsistência humana em um cenário onde as máquinas farão a maior parte dos serviços remunerados.
“A sociedade vai precisar se organizar de outra forma. Até hoje, nos organizamos em torno do trabalho. Acordamos diariamente para trabalhar, porque precisamos do dinheiro para poder viver. Na visão desses líderes, não será mais assim”, diz a CEO da Oxygen.
Ao longo de sua entrevista para Axios, Amodei não esconde sua preocupação com o futuro: “O equilíbrio de poder da democracia se baseia na influência da pessoa média por meio da criação de valor econômico. Se isso não estiver presente, acho que as coisas se tornarão assustadoras.”
Entretanto, o executivo e ex-funcionário da OpenAI afirma que existem soluções práticas para remediar a situação, entre elas:
- A conscientização pública sobre as mudanças que estão por vir;
- A capacitação dos trabalhadores para trabalhar com a IA;
- A criação de soluções políticas para uma economia dominada por inteligência artificial.
Leonardo Lins faz um paralelo com outras mudanças estruturais no mercado de trabalho, como o fim das escalas abusivas das fábricas no século XX, para refletir sobre este possível futuro. “Estamos começando a observar o que vai sair dessa relação entre homens e máquinas. Ao mesmo tempo que a tecnologia avançou, também avançamos do ponto de vista institucional. Temos uma noção do que é a dignidade e a cidadania, isso com certeza vai pesar na hora de desenvolvermos novas regras.”