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17 AGO 2021

Como formar cultura digital de maneira inclusiva?


FGV - 16/8/2021 - [gif]


Assunto: Bate-Papo|Educadores e Internet

No âmbito da pesquisa Formação de Educadores em Direitos Humanos Digitais, realizada em parceria com o Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), realizamos a série Bate-papo | Educadores e Internet, um evento online de três dias, de 07/06/2021 a 09/06/2021, composto por seis mesas que trataram sobre diversos assuntos de interesse dos educadores.

A quarta mesa teve como tema-norteador Como formar cultura digital de maneira inclusiva? Daniela Costa, coordenadora da pesquisa TIC Educação no Cetic.br, recebeu Eliane Leite, Diretora da Escola Técnica Estadual (Etec) Profa. Dra. Doroti Quiomi Kanashiro Toyohara e fundadora da Uzoma Diversidade, Educação e Cultura, e Rodrigo Hübner Mendes, fundador e CEO do Instituto Rodrigo Mendes (IRM). Destacamos as dicas deles a seguir, mas não deixe de assistir a mesa toda.

Confira seis dicas de Eliane Leite (Etec Profa. Dra. Doroti Quiomi Kanashiro Toyohara):

  • Não desistir dos alunos. Durante a pandemia, na escola pública, muitos educadores encontraram a situação de que seus alunos não tinham conexão, não tinham aparelhos. Os professores se reinventaram, deram aula por WhatsApp, tiraram cópia de cartilhas, de livros e distribuíram para os alunos. É muito importante evitar a evasão escolar, mesmo que o aluno não tenha ou tenha pouco acesso à Internet;
  • Entender a excepcionalidade do momento da pandemia. Pensando nas pessoas sem acesso à internet e nas com deficiência, o ensino a distância não pode ser definitivo, é uma solução temporária e pode ser uma forma complementar ao amplo conjunto de experiências presenciais desfrutadas pelos alunos no cotidiano da escola. Assim que o período emergencial acabar, é preciso ir atrás de alunos, para que não se perca a formação deles.

  • Necessidade de políticas públicas de acesso. O Governo do Estado de São Paulo distribuiu chips de internet para alunos que não tinham acesso. Porém, alguns alunos, mesmo com o chip, por morar em regiões sem sinal, não conseguiam este acesso;

  • Estar aberto a várias possibilidades. Durante a pandemia, em certas regiões com difícil acesso à Internet, aulas foram dadas via rádio ou televisão. É preciso também utilizar ferramentas que já estão mais disponíveis, como o WhatsApp;

  • Colaboração e aprendizado com os alunos. A pandemia evidenciou o que Paulo Freire diz sobre o professor também aprender com o aluno. É possível engajar o próprio aluno para que ele se sinta confortável para oferecer ferramentas digitais, por exemplo. É preciso ouvir o aluno e colocá-lo como protagonista;

  • Entender qual é o papel de cada um. É preciso que a sociedade cobre leis e políticas públicas que garantam a conectividade, a exemplo da Lei nº 14.172, de 10 de junho de 2021. É preciso entender qual o nosso papel, enquanto sociedade, para garantir uma melhor formação para os alunos e que a Internet seja realmente uma realidade nas escolas.

    Confira seis dicas de Rodrigo Mendes (IRM):
  • Planejamento pedagógico orientado para atender as diferenças humanas. Alunos com dislexia ou com transtorno de ansiedade, por exemplo, podem sentir-se desconfortáveis a abrir uma câmera em aulas online. É papel do professor conhecer e entender esta diversidade de alunos. Uma ferramenta utilizada para alunos com deficiência visual, como a que transforma texto escrito em falado, pode ser aproveitada para alunos sem esta deficiência, mas que aprendem melhor escutando do que lendo. Como há diferentes formas de aprender, diferentes formas de ensinar precisam ser consideradas. No momento do planejamento a equipe precisa lembrar do perfil de cada aluno, e, com isso, buscar coletivamente criar soluções, permitindo que a escola encontre formas de promover acessibilidade;

  • Desenho universal para aprendizagem O desenho universal propõe a diversificação em três fatores: nos materiais didáticos, nas estratégias pedagógicas e nas relações estabelecidas entre conteúdo e vida real dos alunos. Estudantes com deficiência têm direito a acessar os mesmos currículos que os demais estudantes e desfrutar das mesmas interações. Os professores precisam flexibilizar, ser inovadores e dar alternativas para que o aluno se aproprie do conhecimento, entendendo que não há um único percurso para isso. Um exemplo de material didático acessível para pessoas com deficiência visual e auditiva é usar descrições de imagens ou descrição no áudio e legenda ou janela de libras;

  • Busca pela eliminação de barreiras como tema central da inclusão. O IRM acompanhou o desenvolvimento de uma professora em uma escola em São Paulo/SP que estava com dificuldade de ensinar o sistema solar para uma turma que tinha um aluno com deficiência intelectual e outro com autismo. Com base na cultura maker, ela criou uma espécie de maquete para ilustrar o sistema solar que facilitasse a compreensão do assunto, o que permitiu a acessibilidade do aluno com deficiência e beneficiou a todos. Outro exemplo foi um professor de Belém/PA que, para ensinar ótica para um aluno com deficiência visual, fez com a turma uma maquete para simular a reprodução de imagem, para que o aluno pudesse entender e aprender pelo tato. Um repositório de materiais com exemplos como estes pode ser acessada em: https://diversa.org.br/;

  • Três elementos para formação de educadores para a diversidade. É preciso cobrar investimentos de recursos públicos para esta formação; a formação de educadores precisa envolver professores, gestores e secretários de educação; educadores do atendimento educacional especializado precisam estar juntos na formação de professores e na rotina escolar, para pensar em formas de eliminar barreiras para inclusão;

  • É preciso envolver os alunos na educação inclusiva. No curso de formação aberto para a educação física, Portas abertas para a inclusão, o IRM buscou formar professores para criar atividades que envolvessem todos os alunos. Boas práticas relatadas foram de professores que conseguiram que os alunos propusessem atividades físicas nas quais todas as pessoas poderiam participar. Este curso está disponível em: https://www.portasabertasparainclusao.org;

  • A inclusão é uma mudança de estágio civilizatório. É preciso garantir o direito de aprendizagem de todos. Por meio da tecnologia é possível eliminar muitas barreiras e a cultura digital, pensada para o educador e não só para o aluno, pode fazer uma enorme diferença. Os países com maiores IDH buscam medidas para reduzir a desigualdade. “O mundo vai melhorando conforme a escola inclui todos”.