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25 JAN 2000

A rede mundial veio antes






Arquivo do Clipping 2000

Veículo: Correio Braziliense
Data: 25/01/2000
Assunto: História da Internet 

Os micros pessoais são a principal porta de entrada para a Internet
Cláudia Pinheiro e Felipe Campbell 
Da equipe do Correio 

Criada há cerca de 30 anos, a Internet somente tomou impulso no começo dessa década (sim, nós ainda estamos na década de 90). A rede mundial de computadores hoje é um verdadeiro portal multimídia, acessível de qualquer microcomputador e, em breve, de telefones celulares, palmtops e outros apetrechos eletrônicos. Por enquanto, porém, os micros, surgidos há 25 anos, ainda são a principal porta de entrada para a web.

Muita gente confunde o microcomputador com o computador. Ao contrário do primeiro, que foi criado para tornar a tecnologia mais acessível aos usuários domésticos, o computador apareceu em meados da década de 40 e era uma espécie de servidor com dimensões exageradas - do tamanho de uma geladeira -, bastante utilizado em grandes corporações e órgãos do governo.

Foram dois computadores, aliás, os protagonistas da cena que possivelmente deu início à Internet. Ao tentar interligar os equipamentos, sem muito sucesso, dois professores estadunidenses acabaram originando a mãe de todas as redes. A utilização da web ficou por muitos anos quase que restrita ao meio militar e acadêmico dos Estados Unidos.

Uma ligação entre dois computadores aqui, outra acolá. Um modem de 300 kbps no XT, uma ou outra Bulletin Board System (BBS, um sistema de boletins online) no ar e, a passos de tartaruga, a rede foi se expandindo. Até que, no início da década, as conexões cresceram em progressão geométrica. E o boom da Internet mexeu também na estrutura dos micros.

Em meados dos anos 80, quando os micros começaram a invadir os lares das pessoas, os grandes acessórios à venda eram os drives de 5.25 polegadas, cartuchos de memória MEGA-RAM (no caso do MSX), gravadores Data Corder e monitores fósforo-verde padrão CGA (Color Graphics Adapter, ou Adaptador Gráfico de Cores). Modem era um periférico ainda inacessível ou mesmo inimaginável para os micreiros. Internet, então, nem pensar.

Os primeiros modems, de 300, 600 e 1200 kbps aparecerem em 1990. Nessa época, as BBSs eram a grande atração. A pessoa, do seu micro, se conectava a outro computador, que cadastrava cada usuário e tinha à disposição serviços de mensagens e arquivos com jogos e programas para copiar. Cada 360 Kb, em um modem de 1200 kbps, levava uma hora para ser copiado. Hoje em dia, isso não demora mais do que quatro minutos.

A partir de 1996 (no Brasil), contudo, a chegada dos provedores de acesso à Internet pôs fim às BBSs e incorporou o modem como acessório fundamental ao microcomputador. Com ele vieram os kits multimídia, essenciais para quem quer ver vídeos e ouvir músicas no formato MP3 pela web.

A tendência natural é que, com a evolução das tecnologias de acesso à rede mundial, passando de linha telefônica para cabo ou microondas, por exemplo, a web sirva para fazer muito mais coisas do que simplesmente buscar informações e pesquisas. E o micro será, pelo menos por enquanto, o centro desse processo.

Fusão

Com a Internet, o computador deixou de ser apenas uma máquina inanimada. Ganhou mais "vida", mais razões de existir. Tudo porque o micro está dando conta de fazer o serviço de diversos outros equipamentos comuns ao ser humano, como o rádio, a televisão e até mesmo o console de videogame.

Pelo computador - e graças à web - já é possível ouvir a programação de rádios de outros países, assim como assistir a programas em vídeo e até mesmo disputar partidas de xadrez sem que os jogadores tenham que deixar suas residências, muito menos seus países.

Com isso, será que a tendência da rede é a convergência dos equipamentos em apenas um - o micro? Para Marcelo Manta, coordenador do Grupo de Trabalho de Engenharia de Redes do Comitê Gestor da Internet, a resposta é, provavelmente, sim. Isso porque, para ele, os usuários querem mais interação com a web. Ou seja: querem poder fazer mais e mais coisas no computador.

No entanto, Manta não acredita que isso leve ao desaparecimento dos equipamentos de rádio, de televisão ou mesmo de videogame, mas sim a uma transformação. Ele acredita na integração de aparelhos de rádio e televisão, por exemplo, com o micro e a Internet. Para exemplificar, ele cita os já existentes walkmans que tocam a programação musical das rádios e também músicas em MP3 tiradas da rede mundial.

Atualmente, há dois entraves para que a convergência seja totalmente concretizada. O primeiro ponto é a questão da mobilidade: é mais difícil carregar um desktop do que uma televisão. Outro fator é a qualidade desses serviços via Internet, que ainda está muito aquém da apresentada pelos aparelhos individualmente. Por isso, pelo menos a curto prazo, seria praticamente impossível pensar em se desfazer do rádio e da televisão para ficar apenas com o computador.

Hardware

Será que a Internet está guiando os atuais lançamentos da indústria de hardware e software? Aparentemente sim. Thomas Viertler, gerente de Vendas e Marketing da Microsoft Brasil, explica que a "robustez" de um micro já não importa tanto ao internauta quanto o tipo de conexão.

Quem utiliza a conexão via cabo-modem acessa os sites mais rápido. Quem usa as tradicionais linhas telefônicas tem um acesso mais lento. Isso é o que mais interessa ao internauta hoje, e não se "tal" empresa está lançando um super-processador.

Para Isabel Lopes, gerente de Análise e Suporte da Itautec, o processador ainda interessa aos viciados em joguinhos de computador e também a aqueles que navegam em sites pesados com muitas animações e frames. Na hora de carregar essas páginas, um bom processador, juntamente com uma boa conexão, abre os sites mais rapidamente.

Por causa da Internet, explica Viertler, os grandes interessados em hardware e software hoje são mesmo as corporações que precisam de micros "robustos" para oferecerem bons serviços pela Internet aos seus clientes.

O micro como o conhecemos (com gabinete grande, monitor separado, teclado e mouse) também deve deixar de ser "rei" devido ao sucesso da Internet entre as pessoas. Os computadores estão se especializando. Estão surgindo os mini-micros, leves e até potentes, como os handhelds e os palmtops, que acessam a web. Este ano, estará à venda no Brasil, o celular (que não deixa de ser uma forma diferente de computador) que acessa a Internet.

Mas, nem por causa dessa tendência, os micros com gabinete deixam de ser fabricados. A Itautec está lançando agora em fevereiro uma novo produto que acompanha os micros da marca: é o software Webway Personal, que traz alguns novos serviços para o consumidor, como 25 Megabytes de espaço no servidor, para hospedagem de sites. O cliente acessa o que estiver gravado no servidor da Itautec pela web.

Há alguns anos atrás, a pessoa comprava um micro e ganhava tantas horas de acesso grátis. Agora, porém, com o acesso gratuito, os vendedores têm de pensar em outra promoção, sem se esquecerem da presença cada vez mais forte da rede no dia-a-dia das pessoas. Com isso, os fabricantes não podem mais deixá-la de lado. "A Internet passou a ser um serviço obrigatório nesses últimos tempos", diz Isabel Lopes.