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04 MAI 2015

20 Anos de Internet .br


Folha de S. Paulo - 01/05/2015 - [gif]


Autor: Victória Azevedo
Assunto: História da Internet

Bem-vindo a 1º de maio de 1995. Você não entrou no Facebook nem viu mensagens no WhatsApp ou tirou dúvidas no Google. Nada disso é possível, já que esses serviços só serão lançados ao longo dos próximos 20 anos. Mas já dá para, ao menos, acessar a internet e mandar um e-mail.

Naquele dia, começou a ser oferecida no Brasil a conexão comercial à rede mundial de computadores, abrindo para pessoas comuns as possibilidades já disponíveis para acadêmicos e pesquisadores.

Nesta página, com formato inspirado no desenho do site que a Folha viria a lançar dois meses depois, em julho de 1995, você vai conhecer os pioneiros da rede no Brasil e saber como os internautas mudaram nessas duas décadas. 

O INÍCIO

Dos professores à classe C: como o perfil do internauta mudou

VICTÓRIA AZEVEDO
DE SÃO PAULO

Exatos 20 anos após passar a ser comercializado no Brasil, o acesso à internet ainda é restrito a cerca de 60% da população, mas deixou de ser concentrado à população mais rica.

Hoje, 54% dos internautas brasileiros pertencem à classe C, contra 36% de A e B e 10% de D e E, de acordo com pesquisa do instituto Data Popular feito a pedido do Google. Há ao menos 120 milhões de brasileiros conectados, de acordo com o levantamento mais recente do instituto Nielsen Ibope, de julho de 2014 (esse número de internautas leva em conta acessos frequentes e também os esporádicos). O Brasil tinha, no mesmo mês, 202,8 milhões de habitantes, segundo o IBGE.

Alguns marcos tecnológicos e de serviços oferecidos pela rede marcam a transformação do internauta brasileiro --dos acadêmicos, técnicos de computação, pessoas de órgãos do governo e militares, os pioneiros da rede no país, à classe média emergente, que predomina agora.

A evolução pode ser dividida em quatro fases, segundo o Nielsen Ibope: de 2000 a 2004 com o predomínio das classes A e B; de 2004 a 2007, com a ascensão das lan-houses como principal forma de uso da rede; de 2007 a 2010 com acesso em casa predominando; e, por fim, de 2010 a 2014, com o acesso móvel."

Antes de 1995 já existiam pessoas que tinham acesso, como funcionários de alguns órgãos públicos. Os computadores eram muito caros. As pessoas compravam no exterior e traziam para o Brasil", diz José Calazans, analista de mercado da companhia.À medida que os computadores foram se tornando mais acessíveis, esse perfil foi passando para as pessoas que tinham dinheiro para comprá-los, que à época, eram das classes A e B.

Em entrevista à Folha em maio de 1995, Bill Gates sonhava com um computador que custasse menos de US$ 1.000 (R$ 917 à época, que por sua vez seriam R$ 3.550 corrigidos pela inflação oficial). "Esse é um dos desafios da indústria", disse, à ocasião do lançamento do Windows 95, que requeria no mínimo um processador 386 e 4 Mbytes de memória RAM. A título de comparação, o smartphone LG G4, apresentado nesta semana, tem processador que funciona com 18 vezes a frequência máxima daquele, e 750 vezes a capacidade de memória.

A mesma edição tinha um anúncio do computador Mythus 450 d2, vendido a R$ 1.999 (R$ 7.750 corrigidos). Hoje, não é difícil encontrar notebooks suficientes para as tarefas do dia a dia por menos de um sétimo do valor.

CONEXÃO

Em 2000, questionava-se a utilidade da banda larga (em contraposição às conexões discadas), que engatinhava no mundo e mal tinha visto a luz do dia por aqui.

"Tenho receio de que a banda larga vá resultar numa enxurrada de conteúdo sem critério", disse acertada e paradoxalmente o presidente da empresa de software para banda larga Fantastic Corporation, Robert Montgomery, à Folha naquele ano.

À época, quase todo usuário ouvia o som da conexão por meio da linha telefônica (que, aliás, ficava indisponível enquanto a internet era usada) antes de poder começar a navegação. Ao fim do ano seguinte, em dezembro de 2001, havia 852 mil usuários de banda larga, segundo o IDC.

Seis meses depois, o número passou para 1,4 milhão. Mas foi só em 2006 que o dial-up deixou de ser o método majoritário para se ligar à rede --e, em 2013, uma a cada dez conexões residenciais ainda era discada, segundo a pesquisa TIC Domicílios, do CGI.

A REDE QUE MUDOU A REDE

A virada da inclusão digital tem ano (2004, quando apenas 28 milhões de brasileiros com mais de 16 anos já haviam utilizado a rede ao menos uma vez), nome (Orkut) e lugar (as lan-houses, antes disso restritas aos amantes dos games).

"A explosão da internet [no Brasil] se deu com o Orkut. As pessoas passaram a ir a lan-houses para navegar, e não mais só para jogar. E foi nesse momento que as classes A e B deixaram de ser dominantes", conta Calazans.

O fenômeno dessa rede social, pertencente ao Google, foi tão grande que criou-se a expressão "orkutizar", que representava tudo que passou a ser popular na internet. Essa segunda fase, com o predomínio das lan-houses, das redes sociais e sem o acesso à internet restrito a uma classe social específica, durou até o final de 2007.

No final daquele ano, aconteceu outra alteração no cenário brasileiro e, dessa vez, foi uma mudança econômica, o chamado "fenômeno da classe C". Como as pessoas passaram a ter um maior poder aquisitivo, comprar um computador não era mais uma coisa impossível -- e, nesse momento, o uso da internet cresceu muito no país e o acesso em casa predominava.

Em 2010, aconteceu outra mudança, só que dessa vez foi estrutural, dos aparelhos, com o surgimento dos smartphones, que vivem um momento aquecido nas vendas no país, mas já dão sinais de desaceleração. Só no ano passado, foram vendidos 54,5 milhões de "telefones espertos", crescimento de 55% em relação a 2013, segundo a consultoria IDC. Para este ano, contudo, a firma de pesquisa projeta incremento de só 16%, reflexo da crise econômica e do chamado "amadurecimento" do mercado.

De acordo com a pesquisa do Google, entre os internautas da nova classe média que possuem smartphones, eles são a principal forma de acesso à rede (96% dos internautas o usam, contra 92% dos desktops e 89% dos notebooks).

FUTURO DOS COMPUTADORES

Quando questionado sobre qual seria o futuro dos computadores e se eles corriam o risco de serem "extintos", Calazans disse que a tendência é o crescimento do uso da internet por meio dos smartphones, mas sem que isso substitua completamente os computadores. Isso porque esses celulares e tablets não substituem todas as funções do computador, afirma Calazans.

De acordo com estudo do Google, 8 em cada 10 pessoas da classe C usam a internet como fonte de informação para tudo o que precisam, proporção igual a usuários das classes A e B.

A explosão da internet [no Brasil] se deu com o Orkut. As pessoas passaram a ir a lan-houses para navegar, e não mais só para jogar.

José Calazans, analista de mercado do Nielsen Ibope