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30 NOV 2018

Internet pode oferecer riscos para crianças e adolescentes


Profissão Repórter - 29/11/2018 - [gif]


Assunto: TIC Kids Online Brasil 2017

Bullying nas redes sociais, vício em jogos online, vídeos de desafios que podem ferir e até matar. O Profissão Repórter mostra os riscos para crianças e adolescentes que acessam a internet.

Mais de 24 milhões de crianças e adolescentes têm acesso à internet no Brasil e 77% deles assistem a vídeos online, segundo dados do Comitê Gestor da Internet no Brasil.

Kauã, de 13 anos, é uma das vítimas dos perigos da internet. Ele participou de um jogo perigoso estimulado pela web e acabou com quase 40% do corpo queimado. O acidente foi em janeiro do ano passado. “Ele tava vendo vídeo de desafio na internet e foi tentar repetir o que ele achou mais interessante, que era o truque das mãos de fogo”, conta o pai do garoto, Cleyton Peixoto.

O vídeo que inspirou Kauã já foi retirado do ar. No caso do garoto, a garrafa de álcool explodiu na mão dele. No momento do acidente, ele estava sozinho em casa. O adolescente fez 13 cirurgias, três enxertos e ficou 65 dias internado. As próximas cirurgias dele serão pra diminuir as cicatrizes do rosto e do pescoço.

O Instituto Dimicuida foi criado para alertar crianças e seus pais sobre os riscos das brincadeiras perigosas que circulam na internet. Segundo o Dimicuida, nos últimos cinco anos, pelo menos, 20 jovens brasileiros morreram ao tentar imitar desafios da internet.

O Dimicuida conseguiu retirar da internet cerca de 25 vídeos que promoviam desafios e brincadeiras perigosas.

Em Recife, há um ano, Jobson, um menino de 14 anos, foi encontrado morto em casa. Segundo o pai dele, Jaílson de Souza, ele teria se inspirado em uma brincadeira perigosa na internet e aspirou desodorante. Ele conta que encontrou o filho já sem vida no banheiro de casa: “Eu achava que por estar dentro de casa, ele estava seguro, mas o mal estava dentro de casa e eu não sabia”.

O Profissão Repórter conversou com Mathaus Santana. Foi ele quem postou o vídeo do desafio do desodorante que Jobson assistiu. Ele se diz arrependido e garante que apagou o vídeo de seu canal.

Cyber bullying e exposição de imagens íntimas

O cyber bullying - as ofensas e intimidações postadas nas redes sociais - está em primeiro lugar entre as denúncias recebidas pela ONG Safernet no ano passado. Comentários e postagens que demonstrem racismo, homofobia, intolerância religiosa e xenofobia são os mais comuns nesse tipo de bullying.

“Ainda tem gente que não leva em consideração que quando está online precisa considerar todas as regras de convivência e cidadania, respeito ao outro, respeito às leis. Todas as leis valem também na internet”, afirma Rodrigo Nejm, diretor da Safernet.

O vazamento de dados pessoais vem em segundo lugar nas denúncias, seguido pela exposição de imagens íntimas.

Uma jovem de Salvador que teve fotos nuas vazadas na internet quando tinha 13 anos relata todo o sofrimento que passou. Ela conta que só conseguiu retomar sua vida ao perceber que não era a única a passar por isso. “Quando aconteceu, não pedi ajuda porque estava com muito medo. As pessoas acham que sempre a vítima é a culpada pelas coisas”, lamenta.

Em outro caso, uma jovem relata uma história ainda mais grave: segundo ela, as imagens vazadas quando ela tinha 13 anos são de um estupro. Depois que o vídeo se espalhou nas redes sociais, ela decidiu procurar uma delegacia da mulher. Como o exame foi feito muitos dias depois, a perícia não encontrou nenhum vestígio que comprovasse estupro. O inquérito foi arquivado e a jovem continuou sendo atacada nas redes sociais. Hoje, ela tem 18 anos e diz que nunca mais foi à escola e que quase não sai de casa.

Vício tecnológico

Gustavo Fontes, de 15 anos, sempre gostou de jogos de computador. Ele descobriu que podia se destacar no mundo dos games. O pai dele, Francisco, conta que o menino passou a jogar 14 horas por dia: “Eu percebi que ele estava acessando muito a internet quando ele começou a faltar na escola. Eu precisei colocar uma câmera pra saber se ele estava indo pra escola”. 

Ainda assim, Gustavo continuou faltando na escola. “Aí comecei a bloquear a internet. Ele tava realmente numa situação de dependência”. O garoto conta como foi: “É como se você tivesse perdido uma coisa muito preciosa, você fica deprimido, você chora”. Gustavo fez tratamento psicológico e hoje joga, em média, cinco horas por dia.

A cada 15 dias, um grupo de dependentes de vídeo games, internet, celular e outras tecnologias se reúne no Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo para tratar o vício.

Quatrocentos pessoas já passaram pelo tratamento. “Um dos grandes pontos que estabelecemos é que essas pessoas desenvolvam o que a gente chama de controle, que elas saibam utilizar a tecnologia de uma maneira saudável e não prejudicial”, explica Cristiano Nabuco, coordenador do programa Dependentes de Tecnologia do HC.