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20 SET 2018

Filhos e o paradoxo da liberdade online


DCI - 19/09/2018 - [gif]


Autor: Paula Cristina
Assunto: TIC Kids Online Brasil 2017

Entender, mapear e antecipar o comportamento das crianças são tarefas árduas desde que a infância foi entendida como um período de formação de habilidades sociais. No meio das discussões sobre escola ter ou não ter partido, ou qual o limite do nu na arte, esquecemos de uma janela de proporção imensurável que leva as crianças onde elas quiserem: a internet. Com a popularização dos celulares, 27,4 milhões de crianças (ou 85% dos jovens com idade entre 9 e 17 anos) acessam internet por meio de dispositivos móveis, e 44% deles usam exclusivamente os celulares para se conectar, segundo a Pesquisa TIC Kids Online divulgada ontem.

Opressão também é virtual

Muito além de todo questionamento que envolve o uso excessivo da internet durante a infância e seus efeitos práticos nas habilidades sociais dos jovens no mundo real, precisamos pensar no efeito nocivo que a vida virtual de um adolescente pode criar para além do ambiente digital. Segundo o estudo do Cetic.br, nos últimos 12 meses, 39% das crianças e adolescentes viram alguém ser discriminado na internet. O percentual vai a 54% na faixa de 15 a 17 anos. O preconceito por cor ou raça é o mais relatado (26%), seguido pelo de aparência física (16%) e sexualidade (14%).

O que diria Paulo Freire?

Em uma de suas obras mais famosas, A Pedagogia do Oprimido, o educador e filósofo Paulo Freire diz ser muito difícil para um adulto compreender o outro e relevar ofensas. Esse desafio, diz ele, é ainda maior entre crianças. Quando não levamos nosso rebento em direção à liberdade, ele só conseguirá ter como objetivo tomar o lugar do opressor. Dentro deste caldeirão de sensações, a internet facilita que o oprimido seja opressor, e é por redes sociais que formamos jovens que se mostram cada vez menos tolerantes, mais agressivos e com menos habilidades de legitimar o outro.

O filtro social

Outro dado que salta aos olhos dentro da TIC Kids Online é a proporção de crianças e adolescentes que sofreram algum tipo de discriminação virtual tendo entre 15 e 17 anos. Nessa faixa, 30% dos ouvidos relataram ter sido vítimas de opressão. Quando o recorte se dá por classe social, os jovens com as piores rendas familiares foram os que mais relataram ter sido alvo de ofensas. E aos que pensam que isso é vitimismo, eis um dado que corrobora com Paulo Freire : 31% dos jovens entre 15 e 17 que admitiram ofender os outros na internet são de famílias com renda mínima.

Olho por olho

Enquanto o olho por olho, dente por dente coloca jovens em lados opostos nas redes sociais, o entendimento dos pais sobre o comportamento dos filhos na internet ainda é incipiente. Segundo a pesquisa, 41% dos filhos assumem que os pais não acompanham tudo que eles acessam, cifra que é maior conforme avança a idade, e varia de acordo com a necessidade dos responsáveis trabalharem. Outro tema delicado são mensagens de estranhos com conteúdo sexual. Entre jovens de 15 a 17 anos das classes menos abastadas, a proporção de assedio é de três em cada 10.