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12 ABR 2019

Como o bilhete único deixa você pagar o busão sem enfiar a mão no bolso?


UOL - 11/4/2019 - [gif]


Autor: Helton Simões Gomes
Assunto: TIC Domicílios 2017

Pode chorar, Apple. Você também, Google. Se tem uma tecnologia de pagamento por contato que realmente pegou no Brasil foi a do bilhete único. Você pode até não perceber, mas o bilhete único é primo dos sistemas de pagamento das duas gigantes da tecnologia, Apple Pay e Google Pay, respectivamente.

Okay, não precisa se culpar, tudo ocorre de forma tão invisível que fica difícil notar. Basta encostar o cartão em um terminal e, pronto, o busão ou o metrô estão pagos. E você nem precisou coçar o bolso atrás daquela moedinha salvadora. A tecnologia por trás de todo esse processo, porém, está longe de ser tão simples assim.

A forma como o bilhete único voltou a ser assunto depois de a prefeitura de São Paulo mudar as regras para o cartão. Essa alteração provocou uma onda de reclamação entre os moradores da cidade de São Paulo e arredores. E, olha, que é muita gente brava. Segundo a SPTrans, há 8 milhões de cartões em circulação - juntos, eles são usados em 10 milhões de viagens por dia.

Tecnologia usada por Apple e Google

Entre outras modificações promovidas, a prefeitura da capital paulista reduziu o número de embarques durante o tempo de integração para quem tem Vale-Transporte. Antes, esses passageiros podiam pegar até quatro ônibus dentro de duas horas; agora, poderão tomar até duas conduções, mas dentro de um período maior, de três horas. A administração municipal acabou ainda com a possibilidade de adquirir um desses cartões sem apresentar RG.

O que não mudou, no entanto, foi a tecnologia por trás do bilhete. Eles são equipados por um chip capaz de enviar informações por uma tecnologia chamada de comunicação em campo próximo (NFC, na sigla em inglês). É ela que une o cartão usado no transporte público de São Paulo a Apple Pay, Google Pay e Samsung Pay - o sistema de pagamento da sul-coreana possui ainda uma forma de transmissão adicional por via magnética.

Velocidade de conexão

Sabe as ondas de radiofrequência que seu celular usa para enviar e receber dados de internet? O NFC também usa essas ondas. Só que ele recorre a uma faixa de baixa frequência, a dos 13,56 MHz. A título de comparação, o 4G do seu smartphone funciona na faixa dos 700 Mhz e dos 2,5 Ghz.

Quando você encosta o cartão na leitora, os dados trafegam por meio dessas ondas. A velocidade em que essa transferência ocorre chega a 848 kilobits por segundo. Okay, não é nenhuma banda larga, mas tem brasileiro que não usa uma conexão muito melhor, não.

Cerca de 9% das casas no Brasil acessam a internet com taxas de até 1 Megabit por segundo (equivalente a 1.000 kbps), segundo pesquisa do Centro de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), órgão vinculado ao Comitê Gestor da Internet.

A "alta" velocidade de transmissão e o fato de os pacotes de dados emitidos serem pequenos, cerca de 4 kilobytes, fazem com que a operação seja bem rápida.

Segurança

O NFC também é a resposta para quem duvida da segurança do bilhete único, pelo menos na hora de pagar a tarifa. A cisma tem fundamento, já que dados enviados via radiofrequência podem ser interceptados - basta alguém interpor algum receptor de sinal no meio do caminho, algo que não é fácil. Essa estratégia, porém, parece ainda mais improvável no caso do bilhete único, já que a distância máxima entre o cartão e a leitora deve ser de 10 cm.

As máquinas validadoras, aquelas que coletam as tarifas, ficam acesso à internet enquanto os ônibus estão rodando. Elas se mantêm offline até que o veículo chegue à garagem. Lá, elas são ligadas ao wi-fi para transferir as informações a uma central de dados por meio de um link dedicado.

O mesmo não ocorre com os equipamentos de recarga, pois eles permanecem online. Com isso, estão em constante comunicação com a Central do Bilhete Único para poder autorizar ou recusar uma transação de crédito.

Quanto dinheiro cabe?

Os bilhetes únicos foram desenhados para não comportar grandes somas. Os cartões sem personalização (sem foto e dados pessoais impressos) podem conter apenas dinheiro para 10 tarifas, valor atualmente equivalente a R$ 43. Só que essa modalidade está com os dias contados, porque os postos de venda deixarão de comercializá-lo. Já os cartões com personalização podem ser carregados com créditos no valor de até 350 no tipo comum.