NIC.br

Ir para o conteúdo
01 AGO 2011

O desafio dos PTTs






Teletime - 08/2011 - [ gif ]
Assunto: PTT Metro

A Internet nada mais é do que uma grande rede na qual todos os pontos estão interligados. Para facilitar a comunicação entre esses diversos pontos espalhados por todo o mundo, foram criados nós de interconexão, onde os demandadores de tráfego podem se conectar diretamente sem que seja preciso estabelecer um link entre cada um deles. Foi a partir desse conceito que nasceu a Internet nos Estados Unidos, onde a maioria de provedores de conteúdo e de acesso se conectam diretamente nos diversos Network Access Point (NAPS) espalhados pelo País.

No Brasil o desenvolvimento da Internet foi um pouco diferente porque as operadoras de telecomunicações, que detém o monopólio das redes nas suas respectivas regiões, lucram com a venda de banda IP para terceiros. Assim, ao contrário dos EUA, são poucos os pontos de troca de tráfego existentes (PTTs), com baixo volume de tráfego e, mesmo assim, muito concentrados no PTT de São Paulo, que tem se tornado o grande entroncamento da Internet brasileira. No Brasil existem atualmente apenas 16 PTTs, mas boa parte do tráfego é trocado em São Paulo. O PTT de São Paulo troca em média 29 Gbps de tráfego por dia, sendo que o volume total nacional, considerados todos os demais pontos, é de 36 Gbps.

O NIC.br é o organismo responsável pela manutenção de quase todos os PTTs que existem no Brasil, através do projeto PTT Metro, criado em meados de 2004. Há cerca de um ano, o NIC.br baixou a exigência mínima de conexões para que uma empresa possa ser considerada uma AS (Autonomous Systems) e assim obter o Autonomous Systems Number (ASN) de 4 mil para mil números IP. As redes AS possuem uma política de roteamento comum e a elas são destinados blocos de IP específicos que permitem identificar a origem do tráfego.

A flexibilização da quantidade mínima de endereços IP fez com que o número de instituições com ASN mais do que dobrasse do ano passado para cá. Hoje no Brasil existem 1.135 instituições nesta categoria. Além dos grandes provedores de conteúdo, têm o ASN grandes empresas, algumas universidades e, com a queda do número mínimo de endereços IP, alguns provedores de Internet de menor porte.

O PTT Metro trabalha na expansão dos PTTs já pensando na Copa do Mundo de 2014. O objetivo é que até lá todas as cidades-sede tenham um PTT. Das 12 cidades-sede, três delas (Cuiabá, Natal e Manaus) não têm pontos de troca de tráfego de Internet ainda. “Estamos indo atrás das empresas para convencê-las a participar dos PTTS nessas localidades. A que está mais difícil é Manaus. As demais já estão sendo trabalhadas. E temos verba para instalar todas essas cidades”, diz Milton Kashiwakura, diretor de projetos do NIC.br.

Benefícios e custo

Estar conectado a um PTT significa estar a um número menor de passos do destino desejado a custo quase zero. Isso porque a participação nos pontos administrados pelo NIC.br não tem custo, o participante só precisa contratar um link que o leva até um dos PIXs (ponto de acesso do PTT). Outra característica importante dos PTTs é a sua natureza distribuída. Os PIXes ficam espalhados pela cidade para que cada interessado possa se conectar ao PIX mais próximo. Além dos PTTs do NIC.br existe um outro em São Paulo de natureza privada, administrado pela Terramark. No PTT Metro, empresas particulares, como datacenters, podem exercer o papel de PIX. Para isso elas devem estabelecer uma conexão com o PIX Central da região através de uma fibra óptica apagada (que permite grande escalabilidade) e arcar com os custos do equipamento local (switch). Elas podem, então, estabelecer condições e valores para a conexão dos participantes do PTT ao seu PIX. Os equipamentos, no entanto, são administrados pelo NIC.br, representando o Comitê Gestor da Internet, que define também a política de troca de tráfego e do uso do sistema de interconexão. Essa infraestrutura é considerada pelo Comitê Gestor como de uso público e, portanto, seu uso é, hoje, gratuito. “O crescimento da região se dá em torno daquele ponto. Isso ajuda a organizar a infraestrutura de rede do País. As operadoras que quiserem fazer investimento já sabem onde têm que chegar para atender às empresas daquela região”, explica Kashiwakura.

Outra vantagem de se conectar ao PTT é o contato direto entre usuários de outros participantes, o que elimina muitos roteadores do caminho e gargalos de transmissão das operadoras. A comunicação se torna mais rápida, estável e mais barata. “Hoje, os acessos que temos aos PTTs correspondem a cerca de 35% do nosso tráfego total, o que nos trouxe uma economia de 20% no nosso custo mensal de links de Internet, além de nos deixar a menos de 5 metros de distância dos usuários da Net e GVT na região de Porto Alegre”, afirma Juliano Primavesi, diretor de operações da Cyberweb/Kinghost, companhia gaúcha que atua com serviços de hospedagem, registro de domínio e data center.

Eduardo Parajo, diretor-presidente da Abranet, recomenda que os associados se juntem ao PTT no momento em que estiverem precisando aumentar a banda contratada junto à operadora. Ao participar do PTT, o provedor conseguirá economizar de 15% a 30% da banda contratada e assim ele consegue adiar a expansão do link. “Conectar-se ao PTT é interessante não só pelo custo, mas pelo efeito de redução de passos e redundância”, diz Parajo.

Restrições

As incumbents normalmente estão conectadas aos PTTs, mas não participam do chamado ATM (acordo de troca multilateral). Elas utilizam-se da infraestrutura dos PTTs para fechar acordos bilaterais. Embora a atitude acarrete mais “passos” para que terceiros atinjam seus usuários e/ou conteúdos, a aposta dessas empresas é perfeitamente aceitável. Uma forte componente da receita delas vem justamente da comercialização de trânsito IP. “É uma questão de modelo de negócio. Se o modelo dele é vender trânsito Internet, fica de fora ele trocar tráfego com todo mundo”, afirma Parajo, da Abranet. Das 189 empresas que fazem parte do PTT de São Paulo apenas 11 não fazem troca multilateral.

Outro entrave que afasta as teles da troca multilateral é o volume de tráfego. Se ela trocar tráfego com todos haverá um desbalanceamento grande entre o volume de dados que ela busca em outras redes e o volume que as outras redes buscam nela. “A Oi e a Telefônica vão dizer: ‘você não é meu parceiro, é meu cliente”, resume Alexandre Grojsgold, diretor de engenharia e operações da RNP. De maneira geral, as grandes operadoras fazem troca apenas entre si, a academia e o governo, excluindo-se é claro os concorrentes.

“Estamos pagando por conexões que não precisavam ser pagas. São criadas barreiras artificiais, porque o PTT reduz custo de banda. Eu duvido que a Oi esteja trocando tráfego com a GVT. Se a Oi e a GVT não se ligam diretamente, esse tráfego pode ir a Miami e voltar”, sustenta Carlos Ribeiro, diretor de operações da Telbrax – companhia mineira de comunicação de dados para o mercado corporativo. O executivo afirma que o tráfego do PTT de Belo Horizonte é de 500 Mbps, o que é pouco comparado com cidades do mesmo porte, como Porto Alegre, que tem uma demanda de 2 Gbps. O objetivo da Telbrax é elevar o tráfego do PTT de Belo Horizonte para 1 Gbps até o fim do ano e assim elevar o número de operadoras e empresas conectadas ao PTT de Belo Horizonte e atrair os gigantes da Internet como Google e Yahoo.

Considerando o preço de referência da Telebrás – R$ 230 o Mbps – Ribeiro estima que a economia gerada pelo PTT atendendo a toda a demanda da cidade seria da ordem de R$ 5,5 milhões por ano. Apesar das críticas ferrenhas à postura das incumbents, Ribeiro afirma que a posição delas está mudando. Com o crescimento da operação de banda larga das redes alternativas como Net, GVT e os provedores regionais, a troca de tráfego passa a ser um pouco mais balanceada. “Além disso, eles (as incumbents) estão perdendo competitividade em banda”, afirma Ribeiro. A Oi, através da assessoria de imprensa disse que não participaria da matéria e a Telefônica não retornou o pedido de entrevista.

A pequena Sercomtel, do Paraná, está há um ano conectada aos PTT de São Paulo e Curitiba e já colhe os frutos da decisão tomada no âmbito de uma reestruturação que está sendo promovida por seu presidente, Fernando Kireeff. “Dá mais velocidade e eficiência na troca de tráfego. Nossa rede agora está muito mais complexa. No monitoramento você vê para onde vai o tráfego da sua rede”, explica o executivo. A companhia agora estuda participar de algum NAP norte-americano para buscar eficiência ao acessar também o conteúdo hospedado fora do Brasil.

Um dos grandes parceiros do NIC.br no projeto PTTMetro é a RNP, que administra desde a década de 90 uma extensa redes de POPs espalhados por todas as capitais para conectar as universidades e os centros de pesquisa. Inclusive, a RNP forneceu o local do primeiro PTT do NIC.br, em Brasília. Alexandre Grojsgold acrescenta que os PTTs são uma infraestrutura de grande relevância para as cidades pequenas. “Para as cidades mais distantes, a troca de tráfego começa a ter uma importância técnica além de econômica para fomentar trânsito e tráfego locais”, argumenta.