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23 JAN 2017

O desafio de aumentar o alcance da banda larga


Revista Abranet - 23/01/2017 - [gif]


Autor: Roberta Prescott
Assunto: Banda larga no Brasil

Preço e infraestrutura são as principais barreiras para a expansão da banda larga. Não por acaso, o porcentual de domicílios conectados permaneceu o mesmo entre 2014 e 2015, e o grande responsável pela inclusão de brasileiros à Internet tem sido o celular. Entender os motivos e qual é o papel dos provedores para levar conexão aos excluídos foram tema de entrevista dada pelo gerente do Cetic.br, Alexandre Barbosa, em entrevista à Abranet.

ABRANET: A proporção de domicílios brasileiros com conexão à Internet banda larga permaneceu a mesma em 2015 (51% dos lares) na comparação com o ano anterior (em 2014, eram 50%). Por quê?
ALEXANDRE BARBOSA: Este dado reflete o que a pesquisa TIC Domicílios 2015 já vem mostrando há alguns anos: a desigualdade no País reflete na questão da banda larga. A estabilidade detectada neste ano revela que, possivelmente, o valor que se paga pela banda larga tenha atingido o limite para o orçamento das famílias. Está ligado a isto o fato de hoje, dificilmente, se conseguir comprar, sobretudo das grandes operadoras, só o acesso banda larga. Elas forçam o pacote, o famoso combo, que é um valor muito alto. Os pequenos provedores, sobretudo nas localidades mais remotas, têm mais flexibilidade e possivelmente um preço menor. E se você quiser comprar só a banda larga, você compra.

Provedores e operadoras alegam que estão investindo sempre na rede, mas o usuário quer pagar cada vez menos. Como equilibrar esta equação?
Para resolver esta equação só tem dois caminhos. De um lado, as empresas precisam mudar seus processos para serem mais eficientes e, do outro, a resposta tem de vir também da reforma tributária. Se você chegou ao breakeven, não dá para perder dinheiro porque a receita média está caindo e, se se atingiu de fato o valor máximo que as famílias podem pagar, é preciso aumentar o número de usuários. Mas para isto tem de reduzir o preço.

De acordo com a pesquisa TIC Domicílios 2015, existem no País 32,8 milhões de domicílios desconectados, a maioria deles das classes C e D/E. O que fazer para conectar os mais pobres?
Voltamos à questão do preço. E, para reduzir o preço sem perder receita, tem de aumentar a eficiência. Temos também uma questão de falta de cobertura da rede, porque não é interesse das operadoras. Serão necessárias políticas públicas de incentivo tanto para elas irem a essas regiões onde não há rede e o serviço não está disponível, quanto para baixarem seus preços.

Já houve e ainda há algumas políticas públicas com este objetivo. A que tipo você se refere?
Algumas políticas de isenção tributária ou de fomento à família de baixa renda. Algumas funcionaram melhor que outras. O Computador Para Todos funcionou bem; houve aumento de domicílios com computador. É preciso achar uma fórmula que consiga incentivar as operadoras a terem um pacote popular. A Banda Larga Popular como foi lançada não funcionou muito bem, porque passado pouco tempo você ligava para uma operadora e ela não tinha [o pacote] a oferecer. As políticas públicas têm de vir com fiscalização e mecanismos para fazer com que as operadoras cumpram.

Qual é o papel dos diferentes meios de acesso à Internet para fomentar uma sociedade conectada?
O celular é o principal dispositivo de acesso à Internet. Está crescendo o número de usuários, mas, para que possamos explorar os benefícios da economia digital, temos de ter cada vez mais gente usando a rede de maneira proficiente, ou seja, explorando habilidades que sejam mais avançadas que o simples fato de usar o Facebook. As classes A e B têm múltiplos dispositivos e, é claro, desenvolvem mais habilidades. As classes menos favorecidas têm feito o acesso à Internet exclusivamente pelo celular. Isto acaba caindo no caso de postar no Facebook, usar WhatsApp, eventualmente ler alguma notícia. No celular há uma série de limitações para criar conteúdo, postar, desenvolver aplicações etc.

Qual tem sido o papel dos provedores de Internet para levar o acesso a quem não tem?
O Brasil tem um cenário peculiar de seis grandes operadoras de banda larga atendendo 85%, 90% do mercado e milhares de pequenos e médios provedores atendendo o restante, com uma função quase social. O papel dos pequenos provedores no atual cenário é fundamental para termos uma população mais conectada.

Qual é o futuro dos provedores?
Depende do cenário de regulação macroeconômica do País. Em muitas localidades, os pequenos e, sobretudo, os médios provedores vão ser adquiridos. Em um cenário de maior crescimento econômico e poder de compra, aumenta também a atratividade das pequenas localidades, e possivelmente as grandes operadoras possam ter interesse em atuar onde hoje não estão.

A fibra ótica está ligada ao aumento da qualidade da banda larga. Como está se dando esta expansão?
A fibra, se não é a melhor, é uma das melhores tecnologias para ter qualidade no acesso. Não só qualidade, mas para se ter a banda larga de fato. Muito embora, quando você vai para tecnologias como rádio ou DSL, já se tem conseguido aumentar a banda com melhorias nos protocolos dos dispositivos. Do ponto de vista de tecnologia, existe um desenvolvimento para melhorar a qualidade e a banda destas conexões. Mas sem dúvida a fibra ótica é imbatível do ponto de vista de qualidade. Nas nossas pesquisas, não temos dados sobre investimentos dos provedores e das operadoras em fibra, mas a tendência é de crescimento.

Ainda há oportunidades para os provedores de Internet ofertarem serviços para escolas privadas e em localidades mais carentes de infraestrutura?
Sim. O governo está bastante preocupado com a banda que chega às escolas. Existe um acordo de parceria entre o antigo Ministério das Comunicações e as operadoras para levar banda larga às escolas. A intenção do programa é muito boa, louvável, mas o que aconteceu na prática foi que a banda que chega às escolas públicas é muito baixa.

Em que você acha que os provedores deveriam focar para expandir a banda larga?
Na última milha, certamente terão de investir em tecnologias mais eficientes e baratas. Na banda de entrada, deve-se ter maior banda. Se estiver em localidade próxima a backbone, buscar conexão por fibra ótica. Mas tudo isto dependerá do cenário econômico.

Existe algum segmento no qual o provedor poderia apostar?
Educação é algo a que se deve estar atento, não apenas para melhorar a infraestrutura de acesso nas escolas, mas também para ofertar serviços de valor agregado. Outro nicho é saúde. O governo lançou um programa de pesquisa em TIC para saúde. É uma mensagem que ele está passando de que esta é uma área prioritária.