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27 JUN 2008

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Portal Exame - 27/06/2008 - [ gif ]
Autor: Sérgio Teixeira
Assunto: ICANN Paris

A Icann, o órgão internacional que regulamenta a internet, aprovou ontem, como esperado, a liberação para que novos domínios de alto nível sejam criados. Isso significa que os endereços da web poderão terminar com muitas outras palavras, além das atuais 21 siglas hoje em uso (.com, .org, .net etc.).

Uma empresa poderia comprar o direito de usar sua marca depois do ponto (.vale, .google, .gm), por exemplo. Outra possibilidade são domínios mais genéricos, como .banco, .esporte e assim por diante.

A decisão é considerada histórica. O presidente da Icann, Paul Twomey, disse tratar-se da maior mudança na maneira como as pessoas se encontram desde a criação da internet.

Bem, para quem esteve envolvido num longo e complicadíssimo processo de decisão, deve ser mesmo um grande feito. Mas ainda há muito o que ser decidido a respeito da nova regra para endereços da web. Conversei agora há pouco com Demi Getschko, um dos pioneiros da internet no Brasil e um dos 15 membros do conselho da Icann, o órgão que toma as grandes decisões da internet. Eu não estava convencido de que a mudança é essa enormidade toda que muitas reportagens sugerem, e depois do papo continuei com essa impressão. Eis o porquê.

Em primeiro lugar, vai levar uns bons meses até que novos domínios apareçam. O que foi aprovado foi apenas o processo segundo o qual esses nomes serão sumbetidos. É claro que é um avanço enorme e que já vinha sendo discutido há muitos anos, mas ainda há um longo caminho a percorrer.

Vai ser necessário que se decida que tipo de novo domínio será ser criado. Uma das idéias é ter endereços terminando com .nyc ou .berlin, para ficar em duas cidades que estão fazendo lobby para ter seus domínios exclusivos. Faz sentido que o jornal New York Times tenha o endereço nyt.nyc, por exemplo. Mas quem será o "dono", a empresa responsável por administrar e distribuir os endereços que vêm antes do .nyc? E quem vai representar os moradores da cidade? Uma empresa privada? A prefeitura? Um conselho misto?

Outra dúvida importante. Quanto mais novos domínios de alto nível houver, mais complicada fica a questão do gerenciamento dos domínios existentes. Pegando um caso hipotético, da Vale, por exemplo. Hoje, se você digitar www.vale.com ou www.vale.com.br vai cair no site da mineradora brasileira. Mas www.vale.net já não é da empresa. Se forem criados novos domínios, em tese, a Vale teria de gastar um dinheiro considerável para garantir o controle do uso de sua marca na rede. É óbvio que quem cair hoje em www.vale.net não demora muito a perceber que bateu na porta errada. Mas a questão do cybersquatting, os invasores de terra virtuais, fica mais complicada -- e o custo de controlar todos os endereços com o nome de uma empresa, também.

Por último, vem a inevitável pergunta: vai pegar? Ninguém sabe. Já não é de hoje que as empresas podem criar endereços terminando em .bz (de business) e .info, por exemplo. Mas quantas vezes você digitou um .biz na vida? Eu não me lembro da última vez que fiz isso. Existe a chance de que, apesar da liberação, poucos novos domínios de alto nível sejam criados por simples falta de interesse.

O assunto dos domínios de alto nível é importante e pode vir a mudar a cara da web, sem dúvida. Mas, agora, não vale a pena se preocupar com o assunto. Melhor mesmo é ajeitar seu site e garantir que ele apareça bem colocado nas buscas do Google. A caixinha de pesquisa é, cada vez mais, o endereço que importa na internet.