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01 SET 2011

Na escola






ARede - 09/2011 - [ gif ]
Assunto: Indicadores CETIC.br

E agora, professor?

Escolas recebem equipamentos, mas há problemas de manutenção e conexão. Além de falta de formação dos educadores.

ARede nº73 setembro de 2011 - As escolas públicas brasileiras ainda estão com nota vermelha na questão da apropriação das Tecnologias  da Informação e da Comunicação (TICs). E não é por falta de equipamentos. Em junho de 2011, o Ministério da Educação (MEC) contabilizava cerca de 71 mil escolas, urbanas e rurais – mais de 30 milhões de estudantes – com laboratórios de informática do programa ProInfo Integrado. Somente em 2010, o Proinfo distribuiu mais de um milhão de computadores, de acordo com Sérgio Gotti, diretor de formulação de conteúdos educacionais da Secretaria de Educação Básica do MEC.

Até meados de agosto, 119 municípios haviam comprado, com recursos próprios, mais de 116 mil notebooks do programa Um Computador por Aluno, o que representou investimentos públicos da ordem de R$ 42 milhões. “Fizemos vendas que vão desde 15 classmates, para pequenas cidades, até lotes de 15 mil portáteis”, revelou o presidente da Positivo, Hélio Rotemberg, em uma conferência. As maiores compras foram feitas pela cidade paulista de São Bernardo do Campo (15 mil unidades), e pelas cariocas Maricá (14 mil) e Petrópolis (13.400).

No entanto, não basta as máquinas chegarem. Uma pesquisa inédita, realizada pelo Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação (Cetic.br), ligado ao Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), mostrou que falta muito para o efetivo uso educacional das TICs. Nessa primeira edição da pesquisa, que não incluiu as escolas rurais, foram entrevistados diretores e professores de cerca de 500 escolas públicas urbanas do país. Embora 81% dessas escolas tenham laboratório de informática, cerca de 22% das máquinas instaladas não estão funcionando. Apenas 4% das escolas declararam ter computadores dentro da sala de aula – e são grandes as chances de que se tratem de notebooks pessoais, dos professores, uma vez que 41% dos docentes que têm portáteis dizem que levam seus equipamentos para a escola.

O levantamento do NIC.br comprovou ainda que a aplicação pedagógica das TICs sofre as consequências da deficiência na formação dos docentes. Nessa edição da pesquisa, que entrevistou apenas professores de Matemática e Português, menos da metade dos docentes (48%) relatou ter feito um curso específico para uso de ferramentas tecnológicas – o restante aprendeu por esforço próprio ou com outras pessoas.

Nas entrevistas, não faltaram exemplos do subaproveitamento das TICs no ambiente escolar: em exercícios para fixação de conteúdo, responsáveis por 90% das práticas pedagógicas diárias, apenas 23% dos docentes usam computador; nas aulas expositivas, que correspondem a 70% das práticas pedagógicas, o computador é usado em 24% dos casos. Para Alexandre Barbosa, gerente do Cetic.br, os resultados da pesquisa indicam a necessidade de incentivar outras formas de utilização das TICs educacionais, pois “o cotidiano do ensino-aprendizagem acontece principalmente dentro da sala de aula e não no laboratório de informática”.

Entre as principais deficiências descritas no cotidiano da escola, 77% dos docentes consideram insuficiente o número de computadores por aluno, 69% acham que faltam máquinas conectadas à internet e 67% reclamaram da falta de recursos de acessibilidade nos equipamentos. A grande maioria das escolas tem acesso à internet (92%) e, dessas, 87% se conectam por meio de “tecnologias de banda larga” – embora o levantamento não disponha de dados sobre capacidade de link e velocidade de tráfego. “Tivemos uma grande dificuldade em obter esses dados pois grande parte dos diretores de escola não sabe dizer qual é a banda contratada. Em uma das escolas visitadas, o diretor tinha ficado sabendo que havia internet uma semana antes do pesquisador chegar, porque um técnico da operadora apareceu para um serviço de manutenção de rotina”, conta um técnico responsável pela metodologia e pela aplicação da pesquisa.

A próxima edição da pesquisa TIC Educacão vai incluir 200 escolas particulares. E o CGI.br fará uma análise qualitativa do uso das TICs em doze escolas, de quatro regiões do país. Ao longo de quatro anos, será feito um acompanhamento detalhado do cotidiano escolar para avaliar a utilização das TICs e a evolução das práticas pedagógicas.
www.cetic.br/educacao/2010