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27 MAI 2007

Mensageiros em tempos modernos






Veículo: Página 20
Data: 27/05/2007
Autora: Andréa Zílio
Assunto: Indicadores

Sem saber escrever, pessoas mantêm viva a tarefa dos mensageiros. Diferente da caneta e do papel, eles usam computador

Há 490 anos antes de Cristo, o homem vencia obstáculos para repassar a notícia, gerando a comunicação. Segundo a lenda, foi nessa época, na Grécia, que o soldado Pheidíppides percorreu 40 quilômetros entre as cidades de Maratona e Atenas para anunciar a vitória grega sobre os persas. Hoje, mesmo diante de tanta tecnologia, é difícil acreditar que ainda haja obstáculo para se comunicar.

A desigualdade social faz da educação e da tecnologia privilégio de poucos, e a necessidade de romper essas barreiras para redigir e enviar uma simples carta a família, amigos, ou um amor distante, exige criatividade. Foi assim que surgiu o mensageiro, que até há alguns anos era visto com freqüência em terminais e rodoviárias escrevendo a pedido dos que não tinham o 'dom' da escrita.

Se de um lado, eles foram aos poucos entrando para a lista das profissões em extinção, uma adequação ao serviço fez com que jovens vissem aí, uma oportunidade de trabalho. É no terminal urbano de Rio Branco que encontramos Alex José, 19, e Pedro Marcolino, 28, dois rapazes que diferente do papel e caneta, usam durante todo o dia, o computador para digitarem cartas e fazerem outros serviços, como: digitar documentos, currículos, títulos, entre outros.

Mantendo a tradição dos antigos mensageiros em ficar nos lugares populares, os mensageiros adeptos a tecnologia ocupam um box por onde circulam pessoas da cidade e da zona rural. O pedido para digitar carta, muitas vezes excede e ganha adicional, e Alex e Pedro também precisam usar da criatividade para ajudar no conteúdo.

Segundo um estudo de 2006, do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI), cerca de 54% da população brasileira nunca usou um computador e 67% nunca navegou na internet, por isso, o mensageiro moderno é mais procurado do que se imagina.

De currículo a carta de amor - O box foi criado há dois anos pelo amapaense Pedro, que estudava medicina na Bolívia e depois veio para o Acre, mas sem conseguir transferir o curso para a universidade do Estado, ele montou o empreendimento para fazer trabalhos de digitação e impressão, mas o que não esperava é que as cartas seriam um dos produtos, foi graças a procura que ele incrementou entre suas atividades. Depois de seis meses no negócio, Alex, integrou como sócio.

Os rapazes cobram R$ 1 por página digitada e o mesmo valor para fazer a impressão. Contam que a procura para redigir cartas, é na maioria, de idosos que não conseguiram aprender a ler e escrever, e sempre acabam ajudando no conteúdo das mesmas.

Da amada a amante - Colonos, ribeirinhos pedem mensagens para levar às rádios, a fim de que sejam lidas em programas. São recados avisando que sobre saúde, retorno para casa, e também à procura por familiares. Tem também gente que pede cartas de declaração de amor, pedido de desculpa, e até mesmo, quem ouse em solicitar carta para a amante. "É uma diversidade imensa, muitas vezes a gente acaba se divertindo com o que pedem para escrevermos, e até ajudamos também", diz Pedro.