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26 MAI 2008

Lan houses se multiplicam no vácuo digital da Vila São Pedro






Jornal ABCD Maior - 26/05/2008 - [ gif ]
Autor: Vanessa Selicani
Assunto: Indicadores

Acesso pago não é democratização da informação; poder público tem de investir

Em apenas um quarteirão da avenida Dom Pedro de Alcântara, na Vila São Pedro, em São Bernardo, são seis lan houses. De acordo com os proprietários, apesar da concorrência cruel, são cerca de 150 pessoas por dia. Os comércios eletrônicos têm em média de seis meses de vida, montados em garagens improvisadas com 15 computadores e cobrando R$1,50 por hora.

Os freqüentadores raramente passam de 1,50m de altura. Crianças e adolescentes são maioria. As irmãs Joelita e Josélia Pessoa dos Santos, 15 e 17 anos respectivamente, passam de três a quatro horas por dia na frente do computador. Respondem juntas e aos mesmo tempo: "a gente fica no Orkut e MSN".

Diogo dos Santos, 11 anos, aguardava ansioso por um computador vazio que tivesse seu jogo predileto, Counter Strike. "Não tenho computador em casa e por isso venho aqui." Proibido desde outubro do ano passado de ser comercializado no País, o Counter Strike é considerado subversivo, e tem o objetivo de matar os adversários a tiros. Nada que impressione tanto o menino. "É violento, mas me distrai."

O fenômeno das lan houses na Vila São Pedro pode ser explicado pela dificuldade de acesso aos computadores e da baixa renda dos moradores. Inserida na região do Montanhão, o censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) de 2007 contabiliza cerca de 112 mil habitantes na área. Para uma população quase do tamanho de São Caetano, a Prefeitura disponibiliza apenas quatro telecentros para capacitação e acesso gratuito a internet.

"É importante salientar que as lan houses democratizam o acesso à internet, mas não cumprem um papel que deveria ser dos governos, de dar capacitação", disse a gerente do Comitê Gestor da Internet no Brasil, Mariana Balboni.

De acordo com pesquisas do comitê, 49% das pessoas que têm acesso a internet utilizam pontos pagos, como lan houses e cyber cafés. O número é maior do que quem usa computador em casa, que corresponde a 44% dos entrevistados. Em São Bernardo, 25,9% da população tem computador, de acordo com o IBGE. "Sabemos que 90% das classes A e B têm. O mercado agora tem necessidade de atingir as camadas mais baixas da sociedade. É nesse espaço que crescem as lan houses", diz Mariana.

Consultor na perfiferia - A consultoria Lanhousing começou este ano um programa de suporte para lan houses em regiões de periferia. Ela fornece nove estações e um servidor com monitores 15", teclado e mouse por R$ 2.700. Para participar do programa é preciso provar que o comércio será montado em uma região de baixa renda e que a empresa será familiar, sem funcionários. O capital de giro precisa ser de pelo menos R$ 1.500, para bancar a infraestrutura.

A lan house popular foi implantada apenas do bairro Paraisópolis, na Capital. "Queremos expandir o projeto e chegar também ao ABCD. Além do preço baixo para abrir o comércio, oferecemos cursos gratuitos para a manutenção", ressaltou o consultor da Lanhousing Ioram Cejkinski.

Prestando auxílio a lan houses desde 2002, Cejkinski explica que o maior problema desses pontos na periferia é a falta de estrutura. "Eles são montados às pressas, e acabam vulneráveis a problemas com vírus e lentidão no acesso a internet", explicou.