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20 JAN 2017

Futurecom: hora de parcerias e novos negócios


Revista Abranet - 20/01/2017 - [gif]


Autor: Roberta Prescott
Assunto: Pontos de troca de tráfego

Abranet consolida o Futurenet como evento para tratar de assuntos técnicos, econômicos, sociais e políticos da Internet

No primeiro dia da Futurecom, um dos mais importantes eventos de telecomunicações, TI e Internet da América Latina, a Associação Brasileira de Internet (Abranet) realizou a oitava edição do Futurenet. Cerca de duas mil pessoas passaram pelo Futurenet, que, neste ano, teve 15 painéis sobre assuntos técnicos, econômicos, sociais e políticos relacionados à web.

Logo no início da programação, a WayFi, startup que leva Internet sem fio para comunidades no Rio de Janeiro, divulgou que está em busca de parceiros para fornecimento de banda larga com o objetivo de expandir sua atuação. O fundador Luiz Friedheim explicou que a empresa TNB Telecom vem apoiando o projeto desde o começo.

A ideia de Friedheim foi minimizar o problema de falta de comunicação e conectividade para grande parte da população, principalmente em áreas de baixo poder aquisitivo. Após avaliar diversas alternativas, a startup, que hoje é acelerada pela Artemisia, desenvolveu uma solução de hardware e software para oferecer Internet de qualidade com acordos de nível de serviço (SLAs, na sigla em inglês), de modo a atender à população e sem a necessidade de muita manutenção.

A primeira implantação foi no Complexo da Maré, na zona norte do Rio de Janeiro, onde a WayFi montou uma rede Wi-Fi para uso pela comunidade. Atualmente, a rede está presente nas macrorregiões cariocas de Mangueira e Piscinão de Ramos, em Jardim Bom Retiro e Comunidade da Reta, na região metropolitana do Rio de Janeiro, e na cidade fluminense de Valença.

O fundador contou que um dos desafios da startup foi transformar o projeto social para conseguir gerar receita. “Fomos pelo caminho mais simples, que é a parceria com empresa privada, por meio de patrocínio, vendendo SSID, tudo que fosse possível”, disse. “Geramos receita e conseguimos manter a rede atuando. Hoje, cobrimos territórios com 300 mil pessoas e 80% da população que mora nas áreas já passou pelas nossas redes”, salientou.

SEM INTERFERÊNCIA

Falando sobre interferência no sistema de comunicação sem fio, um problema enfrentado por provedores de Internet, Marcio Romano, gerente de vendas regional na Cambium Networks, explicou que ela diminui a disponibilidade do espectro de frequência, degrada o sinal, promove a perda de pacotes de dados e o atraso do envio e recebimento deles (delay), diminui a capacidade de tráfego, aumenta a latência e o jitter. Como consequência, o sistema fica instável, não confiável e tem capacidade reduzida, o que implica perda de receitas.

Os tipos mais comuns de interferência incluem o ruído ambiente (o chamado ruído de fundo, que está sempre presente e é causado pelo número cada vez maior de equipamentos que utilizam a tecnologia sem fio); a interferência externa e a autointerferência. “A interferência externa é a mais difícil de controlar, já que provém de outras redes ou outros equipamentos e não conseguimos resolver a questão, porque não está sob nosso controle. Já a autointerferência ocorre quando sinais distintos provêm de uma rede sob o nosso controle”, explicou.

Para combater o ruído ambiente e a interferência externa, os provedores podem adotar antenas direcionais, fazer o isolamento das antenas (relação frente/costas), filtrar ruídos e usar protocolo de interface aérea. “É um software desenvolvido para lidar com problemas de radiofrequência”, comentou. Outra medida é rever o posicionamento das antenas. “Às vezes, elas podem estar muito altas. Quanto mais alta, mais interferência recebe de todo o horizonte. Baixar a antena tem cobertura menor, mas menos interferência”, disse.

DESAFIOS PARA O SETOR

Dificuldades para obter financiamento e promover a transformação digital estão entre os desafios para as empresas provedoras de Internet. Em sua palestra, Marco Salomão, gerente-geral da GlobeNet, salientou que uma das grandes questões para os ISPs é a falta de dinheiro para investir. “Sem Capex, os ISPs estão impedidos de competir com os grandes players de mercado”, afirmou. “Nos momentos em que o consumo desacelera, ter acesso ao capital torna- se um diferencial”, completou.

Outro fenômeno que está sendo acompanhado pelo setor é a transformação digital das empresas, apontou Fabio Salles, consultor de soluções da Openet. “As operadoras têm de estar preparadas e se adaptar à nova realidade”, destacou. Salles comentou que a transformação digital tem como objetivo conferir mais agilidade nos negócios, fomentando desenvolvimento mais rápido e com menor tempo de resposta.

A orientação é montar um modelo de negócio baseado em oferta. “Para muitas empresas, a criação de uma oferta leva mais de um mês, mas as próprias pessoas acham que deveria levar no máximo uma semana. Ou seja, existe diferença entre o tempo que se leva, o real, e o tempo ideal”, apontou, completando que o principal objetivo das operadoras é ganhar agilidade.

Além disto, é preciso incentivar que mais provedores de serviços de Internet (ISP, na sigla em inglês) se tornem sistemas autônomos (AS, na sigla em inglês). Isto porque, ao se tornar um AS, os ISPs podem, por exemplo, conectar-se aos pontos de troca de tráfego (PTTs), explicou Milton Kaoru Kashiwakura, diretor de projetos do NIC.br.

De acordo com Kashiwakura, é um trabalho de convencimento para que empresas com redes que necessitem de mais de 1024 endereços IPs se tornem sistemas autônomos. O Brasil, disse ele, tem perto de 4 mil sistemas autônomos, bastante acima dos cerca de 600 sistemas autônomos que tem a Argentina, segundo país na América Latina e Caribe em número de AS. “Mas, se comparar Brasil com Europa ou Estados Unidos, nosso número é muito baixo.”

Kashiwakura também destacou a necessidade de se manter os PTTs ativos, de diminuir a barreira para instalação de data centers neutros e de se trabalhar junto com as CDNs para melhorar a qualidade da Internet para o usuário final.

INTERNET DAS COISAS

A conexão entre objetos também foi tema do Futurenet. Em sua apresentação, Kleber Carriello, consultor sênior da Arbor Networks, alertou para o fato de as empresas estarem abrindo mão da segurança em troca da funcionalidade ao desenvolver dispositivos conectados.

O grande perigo é que a Internet das coisas (IoT, na sigla em inglês) gera um potencial de ter centenas de milhares, milhões de bots, e como alguns dispositivos não contam com antivírus ou mecanismos de limpeza de malwares as botnets ganham ainda mais força e ficam maiores. “O usuário não tem ideia de que seu dispositivo está invadido e não há uma forma fácil de detectar um malware em IoT”, salientou. De acordo com ele, já existem grandes botnets construídas com dispositivos IoT.