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09 JUL 2008

Demanda reprimida foi atendida, mas assinatura ainda é entrave. Aparelhos pré-pagos compensam






O Globo Online - 09/07/2008 - [ gif ]
Autor: Cássia Almeida
Assunto: Indicadores

Em 1998, ano da privatização do Sistema Telebrás, o sonho do telefone se assemelhava ao da casa própria: apenas 32% dos domicílios tinham o serviço. Em 2006 (último dado disponível), essa parcela pulou para 75,2%. Num primeiro momento, abriu-se a oferta, o grande entrave para a inclusão. Depois, veio o celular, mais acessível: é possível manter a linha ativa com apenas R$ 5 mensais. Na internet, porém, apenas 24% dos lares são munidos de computador e só 17% têm acesso à rede. Em 2001, eram 12,6% e 8,6%, respectivamente.

Eduardo Tude, presidente da Teleco Consultoria, acredita que em quatro anos, a quase totalidade dos lares brasileiros terá telefone, fixo ou celular:

- Em breve, teremos mais celulares que pessoas, como aconteceu na Argentina. E no máximo em quatro anos teremos um alcance semelhante ao da luz elétrica, com mais de 95% dos lares com o serviço de telefonia.

E o avanço da telefonia é mais visível nas classes de renda mais baixa: em 2006, 41,1% das famílias com renda domiciliar per capita até meio salário mínimo tinham celular. Um ano antes, eram 36,6%.

Na telefonia fixa, a demanda reprimida pela falta da oferta foi atendida. Mas a renda baixa - em 2006, 19% da população estavam abaixo da linha de pobreza, ou seja, tinham renda familiar per capita inferior a R$ 125 - limitou sua expansão. Aumenta o número de lares, mas não a cobertura de fixo. E a situação tende a perdurar devido à despesa fixa em torno de R$ 40 para ter um aparelho. E especialistas lembram que o celular é bem mais barato.

- O celular ganhou força onde havia um vazio da fixa - diz Cimar Azeredo, coordenador da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad).

Lan houses ampliam acesso da população à internet

Vista periódica à Lan House

Na família da empregada doméstica Rosângela Galdino da Silva, todos têm celular. Nunca houve aparelho fixo na casa em Austin, distrito de Nova Iguaçu.

- Gasto R$ 56 por mês com os celulares. Temos aqueles planos de pôr R$ 10 de crédito e receber bônus. No fixo, além de caro, não dá para controlar o gasto das crianças - diz Rosângela.

O celular também permite que saiba onde estão seus quatro filhos - Wallace, de 20 anos, William, de 19, Sabrina, de 15, e Mateus, de 14. Internet é na lan house: há quatro na rua de Rosângela, levando a um gasto de R$ 15 mensais. Por enquanto, não há planos de comprar um computador. Sabrina conversa com amigos no Orkut e MSN e faz pesquisas escolares:

- Chegava a ir todos os dias. Agora só vou nos fins de semana.

No celular, o pré-pago saiu na frente. Segundo a Associação Nacional das Operadoras Celulares (Acel), 80% dos aparelhos são pré-pagos, com gasto médio mensal de R$ 13 - e mínimo de R$ 5. No pós-pago, a média é de R$ 30. Mas há 1.815 municípios onde o celular não pega. As operadoras têm de oferecer o serviço para todos os municípios até 2010.

Na telefonia fixa a oferta já é universal, mas, para José Fernandes Pauletti, presidente da Associação Brasileira de Concessionárias do Serviço Telefônico Fixo Comutado (Abrafix), o entrave da renda deve permanecer, devido à cobrança da assinatura. Ele ressalta haver uma migração global para o celular:

- Os casais mais jovens, por exemplo, só têm celular.

No acesso à internet, ainda baixo para o tamanho do país, os números crescem quando se olha para as lan houses. Segundo o Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC-BR), ligado ao Comitê Gestor da Internet no Brasil, 49% dos que navegam na rede recorrem a elas. No Norte e Nordeste, onde a renda é mais baixa, a proporção sobe para 68% e 67%, respectivamente. De acordo com o Comitê para Democratização da Informática (CDI), são 70 mil lan houses no país.

- Tem uma lan house em cada esquina. É um espaço de encontro, além do acesso à internet - diz Mariana Balboni, gerente do Centro de Estudos em Tecnologia da Informação, ligado ao Comitê Gestor.

O economista Marcelo Neri, chefe do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas, ressalta que, segundo a Pnad, de 2005 para 2006, o computador foi o bem durável que mais avançou nos domicílios. E a disseminação acontece nas faixas de renda mais baixa, diz Mariana, porque as classes A e B já estão incluídas:

- A internet hoje está mais para Casas Bahia do que para Daslu.

Já a banda larga (internet de alta velocidade) está presente em apenas 2.125 municípios, 38% do total. Mas, até 2010, todos os municípios e 20 mil localidades têm de prestar o serviço.