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08 OUT 2007

Confira onde há falta de mão-de-obra no Brasil






Veículo: O Liberal
Data: 08/10/2007
Assunto: Indicadores

Quadro real
Há cerca de 2,2 milhões de desocupados e ainda faltam trabalhadores

Num País em que o desemprego beira os 10%, qualificação e boa formação garantem vantagem na corrida por trabalho. Segundo a Pesquisa Mensal de Empregos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), há cerca de 2,2 milhões de desocupados no País - e, ainda assim, faltam trabalhadores no mercado. 'Faltam profissionais qualificados em todos os setores', diz o professor José Pastore, que há mais de 40 anos se dedica ao estudo do campo de trabalho.

Os números computados pelo programa de Intermediação de Mão-de-Obra do Sistema Nacional de Empregos, coordenado pelo Ministério do Trabalho, exemplificam a situação. Das mais de 1,3 milhão de vagas oferecidas por empregadores entre janeiro e agosto deste ano, cerca de 630 mil - 48% - foram preenchidas. Isso frente a uma oferta de 3,2 milhões de trabalhadores que se adequavam ao perfil solicitado. Durante todo o ano passado, o índice de profissionais colocados chegou a 50% e em 2005, a 52%. Segundo a Secretaria de Políticas Públicas de Emprego, em 75% dos casos o problema é falta de qualificação.

'Tivemos um período de mais de 20 anos de estagnação e, por isso, não estamos preparados adequadamente para um crescimento econômico rápido', opina Sérgio Amad, coordenador do núcleo de Recursos Humanos da FGV Projetos, braço de consultoria da Fundação Getúlio Vargas. 'De 2002 para cá passamos a ter uma sinalização de crescimento, o que já deixou alguns setores vulneráveis.'

Os setores sucro-alcooleiro, de petroquímica, energia e construção civil são aqueles em que a situação é mais crítica, na opinião do professor Pastore. 'Sempre foi assim: falta mão-de-obra a qualquer taxa de crescimento acima de 4%', diz. O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, que representa a soma de todas as riquezas produzidas no País, cresceu 4,9% no primeiro semestre do ano. 'Se a taxa continuar na base de 4,5% a 5%, faltará muito trabalhador já em 2008. Isso, aliás, já começou neste ano', alerta Pastore.

Quem está no mercado de recolocação profissional aponta para áreas mais demandadas e em que menos se encontram profissionais. 'Notoriamente faltam pessoas com habilidades manuais, os 'eiros': torneiro, açougueiro, padeiro', diz Augusto Costa, diretor Manpower Brasil, prestadora de serviços em Recursos Humanos. 'Também é difícil achar gente com nível médio que fale idiomas e conheça informática', completa.

O presidente da Curriculum.com.br, site de recolocação pela internet, Marcelo Abrileri, destaca que a procura por profissionais ligados à tecnologia é muito grande, com destaque para os que trabalham com tecnologia da informação. 'Há vagas abertas em tecnologia há meses que ainda não foram preenchidas, pois é difícil encontrar profissionais qualificados', diz. 'A formação tradicional já não cria profissionais empregáveis. Olha-se muito o conhecimento acumulado e o autodidatismo.'

Estimativas da Associação Brasileira das Empresas de Software e Serviços para Exportação (Brasscom) dão conta de que todo ano ficam em aberto 40 mil vagas de emprego no segmento de tecnologia da informação no País - em todos os níveis de especialização. E um dos maiores problemas no segmento, segundo a entidade, é o conhecimento limitado de inglês dos candidatos. Tanto é que a Brasscom tem como meta assegurar o aprendizado da língua por 100 mil profissionais das 27 empresas associadas até o fim do ano que vem.

Mercado está ávido por engenheiros de todas as áreas

O desenvolvimento econômico do País traz uma boa notícia para quem tem formação em engenharia. O mercado está ávido por engenheiros de todas as áreas: mecânicos, eletricistas, de produção e, principalmente, civis. 'Formamos 23 mil engenheiros por ano. Na Coréia, com metade da nossa população, são formados 80 mil', diz o presidente do Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Confea), Marcos Túlio de Melo.

Estudo da entidade mostra que o Brasil tem seis engenheiros para cada mil pessoas economicamente ativas, enquanto a proporção é de 25 para mil em países como Estados Unidos e Japão. 'A demanda no País é muito grande', diz Melo. Segundo ele, se tivessem sido iniciadas todas as obras previstas no Plano de Aceleração do Crescimento, o PAC, lançado pelo governo no início do ano para fazer obras de infra-estrutura, o Brasil teria um déficit imediato de 20 mil engenheiro - só civis.

Por essas e outras, avaliar a possibilidade de se dedicar à engenharia é uma boa opção para quem está na fase de escolher que profissão seguir. 'Dos 11% de brasileiros entre 18 e 24 anos que estão na universidade, apenas 10% estudam nas áreas tecnológicas, em que ficam as engenharias', diz Melo.

'Esse profissional necessita aparecer urgentemente no mercado de trabalho para atuar até em áreas ligadas à logística', afirma a professora de Gestão de Pessoas Shirley Jorge da Silva, da Fundação Dom Cabral. Segundo ela, o conhecimento matemático é um diferencial fundamental de quem cursou engenharia. 'Matemática existe também nos cursos de contabilidade e economia, o preparo para o raciocínio matemático lógico faz a diferença e está muito presente na área da engenharia.'

Há dificuldade para achar profissional de TI

O mercado brasileiro se ressente de profissionais especialistas na área de tecnologia, principalmente tecnologia da informação (TI). 'O País já é o maior empregador da área na América Latina, com quase 900 mil trabalhadores', destaca Sérgio Amad, coordenador do núcleo de Recursos Humanos da FGV projetos, braço de consultoria da Fundação Getúlio Vargas. 'Com o crescimento econômico que se consolida no Brasil, ficaremos vulneráveis e sentiremos muita falta de programadores, arquitetos de software, gerentes de TI', alerta.

Pesquisa do Comitê Gestor da Internet (CGI) divulgada em maio mostrou na prática o aperto para contratar profissionais de TI. A dificuldade para encontrar especialistas da área atingiu perto de 30% das empresas brasileiras com mais de dez funcionários que os procuraram no ano passado. Entre os segmentos pesquisados - foram sete, da construção ao comércio - o setor de hotelaria e alimentação foi o que mais sofreu, seguido pela indústria da transformação.

'A razão maior é a falta de qualificação específica', diz a gerente de comunicação do CGI, Mariana Balboni. 'E os números são ainda piores na contratação de pessoas não especialistas, que tenham apenas habilidade em TI.' Cerca de 42% das empresas pesquisadas encontraram dificuldades para recrutar pessoas com capacidade para lidar com softwares comuns, de uso básico e genérico.

Estudo feito pela consultoria International Data Corporation (IDC) aponta que, de 2006 até 2009, pelo menos 630 mil profissionais em tecnologia da informação serão contratados na América Latina - a maior parte no Brasil, que já emprega 892 mil pessoas na área. Com tanta demanda, a falta é premente. 'E muitas empresas acabam se associando a escolas para abrir cursos e contratar os melhores alunos', diz Augusto Costa, diretor da Manpower Brasil, prestadora de serviços em Recursos Humanos.

Empresas de todos os cantos vivem a mesma realidade. Na cidade catarinense de Blumenau, a Senior Sistemas, uma das maiores desenvolvedoras de software da região, às vezes não consegue cumprir a meta de levar no máximo 45 dias para preencher vagas em aberto. Para tentar suprir a falta de profissionais, a Senior integra o programa Entra-21, desenvolvido pelo Pólo Tecnológico de Informática da cidade (Blusoft). Iniciativa da Fundação Internacional para a Juventude apoiada por um fundo do Banco Interamericano de Desenvolvimento (Bid), o projeto financia a formação em TI de jovens de baixa renda entre 16 e 25 anos.

No ano passado, a Senior contratou 24 jovens que participaram da formação em programação. Atualmente, 35 ex-alunos do programa deste ano estão em processo de estágio na empresa, que prevê contratar como funcionários pelo menos 20 deles. 'Entendemos que devemos trabalhar na base da pirâmide, para poder valorizar quem já trabalha na empresa e ocupar as vagas de início de carreira', explica o gerente de Recursos Humanos, Valmir Deschamps. 'Mas como estamos em franca expansão esses jovens também vêm suprir nossas necessidades imediatas', conta.

Para os especialistas na área, a falta de profissionais é boa notícia, pois tem influência direta sobre os salários. É a velha lei geral da oferta e da procura: quanto menos se tem, mais se paga para conseguir. 'Na Índia, um programador ganha em média US$ 100 por mês, enquanto no Brasil o salário médio é de R$ 2 mil', diz Amad, da FGV Projetos. 'A carência é tanta que os rendimentos estão valorizados'.