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09 SET 2007

Boom de computadores aquece economia






Veículo: Folha Online - Caderno Dinheiro
Data: 09/09/2007
Autor: Julio Wiziack
Assunto: Indicadores

Desde que comprou o primeiro computador, há três meses, a costureira Socorro Pinheiro Martins não parou de trabalhar. O micro de R$ 1.899 parcelado em dez vezes está conectado à internet de alta velocidade e colocou a família, que vive no Campo Limpo, na região metropolitana de São Paulo, em um novo patamar: o dos consumidores eletrônicos.

Com uma renda mensal média de R$ 800 e dois cartões de crédito, Socorro já comprou uma panela elétrica pela internet e não deixa de pesquisar preços antes de ir às compras no mundo real.

"Preferia não ter gostado desse computador", brinca enquanto faz as contas das parcelas que terá de pagar. "Agora tenho de conseguir mais trabalho, mas fico contente porque estamos melhorando de vida."

Socorro não está sozinha. Nos últimos dois anos, as famílias de baixa renda ingressaram com força na economia digital.

Segundo o CGI (Comitê Gestor da Internet), 6% dos brasileiros com ganho mensal de até R$ 500 usaram a internet para divulgar ou vender produtos ou serviços no ano passado.

A própria Socorro já pensa em criar um site para conseguir freguesas. Na internet já existem firmas como a Inter.net que fazem sites customizados a preços acessíveis.

Atualmente, cerca de 3,4 milhões de brasileiros trabalham em casa. Pequenas e médias empresas também estão adquirindo seu primeiro computador e já existem pesquisas provando os ganhos de produtividade para quem investe em tecnologia.

Pilares da economia atual, os computadores estão incluindo esse time na ciranda da geração de riqueza. Um levantamento feito pela Folha com dados das associações de classe do setor mostra que, neste ano, os computadores deverão injetar R$ 51,4 bilhões na economia, 31,8% a mais que em 2006.

Nesse montante estão incluídos as vendas de micros --estimadas em R$ 16 bilhões-, a receita de R$ 29 bilhões da indústria de software e de serviços e o comércio eletrônico, que deverá girar R$ 6,4 bilhões.

Para a confirmação desses números, os brasileiros terão de levar para casa pelo menos 10,1 milhões de micros, 23% mais que em 2006. É o que prevê a Abinee (Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica).

"Estamos prestes a bater um recorde", afirma Hugo Valério, diretor de Informática da associação. "Pelo ritmo das vendas podemos passar de 12 milhões de unidades, marca que supera a estimativa para as TVs", diz.

As fabricantes confirmam essa expectativa. Líder nacional, a Positivo Informática disparou nas vendas. Segundo o Gartner, um dos institutos de pesquisa de mercado em tecnologia mais respeitados do mundo, o grupo já detém 6,8% do mercado latino-americano.

Com a inclusão dos consumidores de baixo poder aquisitivo no mercado, a Syntax --fabricante que atendia só o governo-- mudou de rumo. "Agora 60% do negócio é para pessoa física", afirma Claudio Dias, presidente da empresa.

Preços em queda

Principal atrativo para a compra de um computador, a queda dos preços começou em junho de 2005, quando o governo abriu mão da cobrança do PIS e da Cofins em equipamentos de até R$ 2.500. Em janeiro deste ano, a decisão se estendeu para os de até R$ 4.000. Só com isso, a queda foi de 9,25%, mas, com os ganhos de escala, há fabricantes que cortaram até 70% dos preços nos últimos dois anos.

Com esse incentivo, os fabricantes estão colocando nas prateleiras produtos tão baratos quanto os do setor informal. "Quem gera emprego está retomando as vendas", afirma Cezar Alvarez, coordenador do programa federal de inclusão digital.

À renúncia fiscal somou-se linha de crédito concedida pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) às redes varejistas. Para tomar o empréstimo, elas tiveram de parcelar micros com juros de, no máximo, 2% ao mês.

Segundo o BNDES, 272 mil unidades saíram das lojas do Magazine Luiza, Ponto Frio e Casas Bahia. Percebendo o potencial do negócio, outras redes também passaram a conceder crédito com recursos próprios.

O que chama a atenção é que, segundo os fabricantes, boa parte desses equipamentos sai da loja para se conectar à internet. Dados do Ibope Net/Ratings revelam que 15% dos domicílios terão acesso à rede em 2007. Há dois anos, esse índice era de 12%.

Também cresce a participação dos que navegam pela internet banda larga -de alta velocidade-, um tipo de conexão que permite baixar vídeos e outros tipos de arquivos pesados com mais rapidez.

O professor de história Kleison Barbosa é um deles. Morador de Paraisópolis, na zona sul paulistana, ele comprou seu primeiro computador há dois meses e usa a banda larga para preparar suas aulas. "Economizo com a compra dos livros que uso no preparo das aulas", diz.

Recém-formado, Kleison leciona em uma escola pública de sua comunidade e complementa a renda trabalhando na gráfica de um curso preparatório para o vestibular. Aficionado por eletrônicos, ele tenta resistir aos sites de venda. "Quando o orçamento permite, eu compro CDs e DVDs."

Dados do Provar (Programa de Administração de Varejo), ligado à FIA (Fundação Instituto de Administração), da USP, confirmam que a inclusão digital está impulsionando o comércio. "As vendas praticamente dobraram no primeiro semestre deste ano e as classes C e D respondem por boa parte dessa explosão", afirma Claudio Felisoni de Angelo, coordenador do núcleo.

Diante desse cenário, as grandes lojas fazem planos. A Casas Bahia, que tradicionalmente atende consumidores de baixa renda, estuda lançar um site de vendas.

Segundo Michel Klein, diretor-executivo da rede, a meta é vender 1 milhão de computadores até o final deste ano. "Aí partiremos para o comércio eletrônico", afirma Klein. "Produtos que o cliente não achar na loja estarão na internet."

Iniciativas como essa explicam o otimismo da e-bit, consultoria especializada em comércio eletrônico. Segundo Pedro Guasti, diretor-executivo da instituição, o ritmo das vendas de micros deverá manter os índices de crescimento de dois dígitos para o comércio eletrônico nos próximos três anos.