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07 DEZ 2017

8 em cada 10 crianças acessam a internet. E o que elas veem merece a atenção da escola


Porvir - 30/11/2017 - [gif]


Autor: Vinícius de Oliveira
Assunto: TIC Kids Online Brasil 2016

Pesquisa TIC Kids Online Brasil 2016 mostra que a maioria usa o celular como meio para acessar conteúdos online e 41% diz ter presenciado alguma forma de discriminação

No momento em que o mundo adulto se vê diante da polarização política acirrada por bolhas criadas pelas redes sociais, olhar para o que as crianças e adolescentes fazem na internet se torna essencial tanto para protegê-los quanto para evitar que repitam ou sejam expostos a comportamentos abusivos, posts de intolerância e conteúdo violento.

Esse raio x foi feito pela pesquisa TIC Kids Online Brasil, do Cetic.br (Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação), que tenta compreender desde 2012 como usuários com 9 a 17 anos lidam com os riscos e oportunidades da internet. Com abrangência nacional, a pesquisa feita em 2016 contempla 5.998 entrevistas, sendo 2.999 com crianças e adolescentes e 2.999 com seus pais ou responsáveis.

Os resultados mostram que cerca de oito em cada dez (82%) crianças e adolescentes nesta faixa etária usavam a internet em 2016, o que corresponde a 24,3 milhões de usuários. As desigualdades sociais também impactam a distribuição do acesso, uma vez que ainda falta ao país incluir uma parcela de 5,2 milhões de crianças e adolescentes, sobretudo nas regiões Norte e Nordeste e provenientes de famílias de baixa renda. Em áreas urbanas, 86% das crianças e adolescentes estavam conectados, em áreas rurais, mas essa proporção era de 65%. Na região Sudeste, 91% das crianças e adolescentes declararam ser usuários de Internet; no Norte, apenas 69%.

Como apontado pela pesquisa TIC Educação, do próprio Cetic.br, e pelo relatório Horizon Report, feito pelo New Media Consortium, crianças e adolescentes preferem os dispositivos móveis. A TIC Kids Online Brasil registrou que 91% se conectavam à rede pelo celular em 2016, único meio em que a diferença entre as classes sociais se dissipa.

Riscos online

Se mais crianças e adolescentes estão conectados, a chance de exposição a conteúdo impróprio também aumenta e isso coloca familiares, educadores e responsáveis por políticas públicas em alerta. A pesquisa mostrou que, em 2016, 41% dos usuários de 9 a 17 anos (e na maioria meninas) declararam ter visto alguma forma de discriminação. Dentro deste recorte, a maior parte diz ter testemunhado discriminação pela cor (24%), pela aparência física (16%) ou por alguém que gostava de pessoas do mesmo sexo (13%). Também são relevantes os casos de preconceito pela religião (10%) ou simplesmente por alguém ser pobre (8%).

Uma vez online, as crianças também são alvo de publicidade de brinquedos e outros itens de consumo, o que provoca a necessidade do debate sobre promoção proteção de direitos. Cerca de 48% das crianças e jovens entre 11 e 17 anos buscaram informações sobre marcas e produtos (alta de 19 pontos porcentuais desde 2013).

Outro ponto é que 7 em cada 10 crianças acessam a rede com a supervisão de pais ou responsáveis. Geralmente, crianças cujos pais têm escolaridade mais alta e que estão nas classes A e B se sentem mais protegidas.

No artigo “Mediação do acesso de crianças à comunicação mercadológica”, as pesquisadoras Inês Sílvia Vitorino Sampaio e Andréa Pinheiro Paiva Cavalcante mencionam que, salvo em casos pontuais, as crianças não colocam a escola como um espaço de reflexão e crítica sobre publicidade online. Esta argumentação está presente na pesquisa Publicidade Infantil em Tempos de Convergência, conduzida por meio de uma parceria entre o Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br) e o Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística – Ibope Inteligência, em atendimento a uma demanda do Ministério da Justiça.

Segundo as autoras, a origem do problema estaria em uma falha coletiva. “A regulamentação da comunicação mercadológica no Brasil é uma temática praticamente ausente na comunicação midiática. Não surpreende, portanto, o desconhecimento dos pais acerca dessa questão. Na medida em que o assunto também permanece como uma temática lacunar em escolas, ele mantém-se como um tópico desconhecido pelas crianças ouvidas na presente investigação”, diz o texto.